As "Memórias de um crente" de Abbé Pierre (Gráfica de Coimbra, 1997) acompanhar-me-ão sempre! Um daqueles livros sem grandes acabamentos e capa não muito atractiva (e, portanto, baratos em termos monetários), que me consegue prender da primeira à última palavra!
Cerca de 175 páginas de uma vida rica, escrito na primeira Pessoa, de alguém que se deu aos outros, sem esperar mais que a recompensa do encontro com Deus!
Por razões várias, e a última chamou-se Teresa, tenho a certeza que já li este livro 3 vezes completas, embora pense que até já foram mais!!! Os pedaços soltos é que já não têm conta!
Tenho alguns episódios e passagens que já sei de cor, mas é sempre agradável redescobrir aqueles passagens de que já não me recordava! Eternamente na minha memória, a ovelha longe do presépio familiar na infância, uma "descoberta" nas bem-aventuranças num estádio de Itália, um naufrágio na América do Sul ou a, soberba, forma como o Abbé Pierre (nome que constava nos documentos falsos no decorrer na II Guerra Mundial) narra a celebração da Eucaristia à noite no seu apartamento de Paris, uma autêntica janela para o Mundo, como todos as Eucaristias deviam ser... se nós conseguíssemos!!!!
Outros diamante que este livro me proporcionou foi ter "descoberto" o Dom Hélder da Câmara, bispo brasileiro que fez sempre o que devia, ou seja, defender os mais desfavorecidos (PS: e não tenho conseguido encontrar livros de/sobre ele em Portugal).
Deixo duas ou três frases, completamente ao calhas:
"E agora perguntas-me: o que é Deus? Pois bem, nunca te esqueças dessa alegria, tão diferente das outras, que sentiste nesse momento. Recebeste o dom mais maravilhoso que pode haver e que os teólogos chamam dom da sabedoria. Sabedoria não quer dizer sensato, não fazer tolices. Sabedoria é sapere, uma palavra latina que significa 'saborear', 'apreciar'. Nesse momento, saboreaste como é bom amar. Era Deus que assim encontravas e que cantava no teu coração. Se conhecesses bibliotecas inteiras de teologia, terias algumas ideias sobre Deus, mas não O conhecerias. Ao passo que neste sentimento de alegria, de alegria inexplicável, saboreaste Deus."
"E agora perguntas-me: o que é Deus? Pois bem, nunca te esqueças dessa alegria, tão diferente das outras, que sentiste nesse momento. Recebeste o dom mais maravilhoso que pode haver e que os teólogos chamam dom da sabedoria. Sabedoria não quer dizer sensato, não fazer tolices. Sabedoria é sapere, uma palavra latina que significa 'saborear', 'apreciar'. Nesse momento, saboreaste como é bom amar. Era Deus que assim encontravas e que cantava no teu coração. Se conhecesses bibliotecas inteiras de teologia, terias algumas ideias sobre Deus, mas não O conhecerias. Ao passo que neste sentimento de alegria, de alegria inexplicável, saboreaste Deus."
"O Ocidente enlouqueceu na exacta medida em que ficou preso a um conceito idólatra da liberdade, não soube que fazer da sua liberdade. Ser livre só para ser livre e não para amar, é a exacta definição da ruptura, do impasse e do vazio."
E, afinal não muito (nada) ao calhas: "E adquiri o hábito de celebrar missa, quando estou sozinho, junto daquela janela rasgada sobre toda aquela multidão. É o vitral através do qual contemplo toda a alegria e todo o sofrimento dos homens. E ao mesmo tempo, é a nave da minha Igreja. Tenho na minha frente todos os irmãos por quem ofereço o sacrifício da Eucaristia."
E, para acabar, a frase final do livro: "... a vida é Esperança; o auge da Esperança é a certeza de que Deus, Todo-Poderoso, objecto do meu amor, é perdão; tudo é perdoado àqueles que sabem perdoar."