A décima quarta contribuição para o boletim informativo da Paróquia de Nossa Senhora de Belém (Rio de Mouro), a newsletter n.º 88 relativa ao IV Domingo do Tempo Comum.
Tenho a ideia que para a maioria dos católicos a Liturgia das Horas é sinónimo de algo antiquado. Afinal, no nosso mundo citadino, cheio de solicitações e barulho, há muito que deixámos de ouvir as badaladas dos sinos das Igrejas que, quanto mais não fosse, nos “obrigariam”, mesmo que por breves momentos, a escutar e a parar.
Recordo um pequeníssimo episódio a que assisti no aeroporto de Barajas (Madrid). Foi no decorrer de uma escala de um voo para a Terra Santa, ao fim da noite, logo o aeroporto apresentava-se calmo e só os restaurantes ainda se encontravam abertos. Apesar desta “calma”, muitos passageiros circulavam ainda pelos corredores. No meio deste cenário avisto um muçulmano, virado para Meca, reparando que o natural barulho ambiente não o perturbava, nem os olhares de quem passava. No chão um jornal aberto servia de tapete, e fazia as Orações que sua religião lhe determina, afinal agradecer a Deus nunca é um tempo perdido. Será que eu não aprendi nada com este pequeno instantâneo de Fé?
Confesso que até há pouco tempo nem sabia como se rezava a Liturgia das Horas. É algo que nunca ninguém me ensinou e é algo que eu ainda não sei como, e se, tentarei passar para os adolescentes da catequese. Comecei a aprender o seu significado e riqueza, e já agora o seu “funcionamento”, no decorrer da Formação de Animadores do Departamento da Juventude do Patriarcado de Lisboa, através dos três encontros anuais que frequentei ao longo de três anos. As Laudes, as Vésperas e, se não estou em erro, as Completas, fizeram sempre parte daqueles períodos entre sexta-feira à noite e Domingo à tarde, com especial sabor no comprido e “exclusivo” sábado, em que beneficiávamos de uma relativa ausência do mundo! Para quem está a começar, as regras das Orações da Horas são difíceis de compreender e, se não tivermos ninguém que nos as explique, parece que nunca chegaremos a compreendê-las ou pelo menos a saber em que página devemos abrir o livro.
Depois de obtido o gosto de as rezar nos encontros de formação de animadores, bem como no Tríduo Pascal, ou na Sé de Lisboa depois das catequeses quaresmais do Patriarca, aqui musicadas, já só faltava o começo, que quase sempre é o mais difícil. Para mim, este aconteceu realmente no decorrer das últimas férias; umas férias que exteriormente poderão ser consideradas vazias de atractivos, afinal praticamente não saí de Rio de Mouro! Mas que me permitiram assistir (fazer) a quase todas as Eucaristia das 9h30m, nas quais se rezam os 3 salmos das Laudes e o Benedictus. Este, sem descurar o antecedente referido, foi o momento em que resolvi abrir as assas!
Se calhar, na minha Oração individual, embora em comunhão com toda a Igreja, não respeitarei todas as regras litúrgicas desta Oração comunitária! Se calhar, nas Laudes das 7h da manhã ainda não estou totalmente acordado! Se calhar, em muitos dias rezo as Vésperas e as Completas seguidas apenas ao fim do dia! Se calhar, muitas vezes, rezo-as muito rapidamente! Se calhar, como aconteceu no último Domingo, não é muito próprio rezar as Laudes às 14h e as Vésperas às 22h! Se calhar...
Gosto de sentir o ritmo das quatro semanas, “tocar” as Solenidades e os dias festivos ou as memórias. Poder dizer Aleluia fora do Tempo Pascal!
Não sei se alguma vez tornarei regular o Invitatório, o Ofício de Leitura (nas épocas próprias) ou as Horas Intermédias (Tércia, Sexta e Noa), mas, apesar de a riqueza estar no conjunto, aprecio sobremaneira as palavras dos Hinos iniciais, em especial os poucos que aprendi a cantar, como os Hinos das Completas de Domingo depois das Vésperas II e de quinta-feira, este graças às Orações comunitárias com cânticos de Taizé. Há muito pouco tempo descobri o autor do “Luz terna, suave, no meio da noite \ Leva-me mais longe...” (Cardeal John Henry Newman), e cheguei à conclusão que só quem amou muito poderá ter escrito palavras tão belas.
Muitas coisas poderia ainda escrever sobre a (minha) Liturgia das Horas, mas opto por apresentar algumas palavras de encorajamento que recebi logo no início deste meu curto percurso de 6 meses:
“Gostei de saber que começas a rezar o Ofício Divino, é bom.
Nos Salmos vamos encontrar tudo o que desejamos dizer ao Nosso Deus. Oração de súplica, Acção de Graças, de Louvor, etc... Na Oração feita por meio do «Saltério das horas», rezamos todos juntos no mesmo dia os mesmos Salmos, o que é uma riqueza, e seguimos o ritmo da Igreja Universal.
Pois bem, se num dia não podes rezar os três reza só um. O importante não é a quantidade, mas a qualidade.
Eu gosto de rezar os Salmos saboreando-os, muito devagar. Parar quando alguma frase me diz alguma coisa, ou me chamou a atenção, então paro aí por alguns segundos e repito várias vezes essa frase...”
Para terminar, deixo mais duas “Sugestões para participar melhor na Missa”, retiradas de um artigo (S.D.L.) do jornal paroquial “Ecos” (n.º 147 de 16 de Maio de 2004):
2) O dia do senhor é um dia festivo: isso deve manifestar-se, também, no modo como te vestes (quando és convidado para uma festa, não minimizas a tua “toilette”). Em todo o caso, não te equivoques: não vais para a praia ou praticar desporto...
3) Sê pontual: se chegas quando a celebração já começou, vais, de algum modo, perturbar ou distrair os outros, além de que o Senhor que te convida é a pessoa mais importante e amorosa que jamais existiu.