28 de fevereiro de 2010

Apresentação... de um Anjo!

Quase um mês depois deste pequeno acontecimento, que me encheu o coração, apesar de felizmente a vida não parar, não queria deixar de referi-lo.
Ocorreu em 2 de Fevereiro, dia da Festa da Apresentação do Senhor (40 dias depois do Natal), também conhecido por festa das velas, da Candelária ou da Purificação de Maria.
Gosto de sentir de perto alguma religiosidade popular, que, atendendo ao envelhecimento da população, se nota muito bem em Lisboa, por exemplo com a veneração a Santa Rita de Cássia. Quando faço Eucaristia durante a semana, normalmente opto pela pequena, que com pouco mais de 30 fiéis fica cheia, acolhedora e bonita Igreja de Nossa Senhora da Oliveira (13h10m). Para quem não a conhece, um belo desporto é tentar encontrá-la na rua de São Julião (PS: a solução é n.º 140).
Este ano resolvi ir à Eucaristia da festa na Basílica dos Mártires (13h20m), ou seja, troquei a baixa da Baixa pela alta da Baixa! Ao contrário do que acontece na Senhora da Oliveira, em que o Padre benze as velas acesas no início da celebração, nos Mártires elas são benzidas apagadas no fim, sendo os fiéis convidados depois a irem buscar a sua vela. Imbuído da calma própria do local, lá fui buscar a minha vela... mas como já não havia (e nem é preciso explicar a causa!), vim embora, e se por vezes nos acontece ficarmos chateados com o que não conseguimos "apanhar" da vida, desta vez isso não me aconteceu, pelo que todo contente da vida decidi vir embora (com a moeda na mão!). O que eu não estava à espera, e é incrível as vezes que Deus nos faz isso, é que me aparecesse um Anjo à frente, que desta fez se chamou Teresa, e que me ofereceu, apesar da minha ténue oposição, a sua vela. E assim, este insignificante episódio, termina com o meu regresso ao trabalho (é sempre a descer, até junto ao rio...), a meditar na beleza e na irracionalidade de alguma religiosidade popular, nos Anjos e... como afinal tinha uma moeda na mão, ainda "ganhei" um calendário da Basílica dos Mártires e da Igreja do Santíssimo Sacramento (esta parte da frase não vou explicar!!!), onde curiosamente passei a última passagem de ano!
Que a luz de Cristo, que esta festa das velas recorda, alumie os nossos passos, quer na vida quer na morte.

27 de fevereiro de 2010

Títulos e papéis (Boletim XVII)

A décima sétima contribuição para o boletim informativo da Paróquia de Nossa Senhora de Belém (Rio de Mouro), a newsletter n.º 92 relativa ao II Domingo da Quaresma.

Por vezes algumas palavras tocam-nos sobremaneira, foi o que me aconteceu com o artigo do Padre Duarte da Cunha publicado na “Voz da Verdade” da semana passada, intitulado “Os Cristãos na Terra Santa, e a solidariedade de todos os outros cristãos”.
Embora com muito menos sabedoria e ciência, lembrei-me de uma frase que escrevi numa crónica em Novembro, a propósito de uma peregrinação à Terra Santa:
Uma mágoa, afinal também lá peregrinei como turista, foi não ter conseguido, e se calhar não fiz tudo o que podia, fazer Eucaristia com os irmãos da Terra Santa; até posso contribuir no ofertório de 6.ª-feira Santa para eles, mas ter estado lá e não os “abraçar” é uma tristeza que guardo!

Para enquadramento, aqui copio e deixo algumas frases da primeira parte da crónica do Padre Duarte da Cunha: “(...) No dia 10 dividimo-nos em grupos de três ou quatro para participar na Missa de Domingo de uma paróquia. Fui a Nablus (antiga Siquém onde está o Poço de Jacob diante do qual o Senhor se encontrou com a Samaritana), numa viagem pela Cisjordânia de cerca de 2 horas foi possível ver a pobreza e as muitas casas abandonadas ou em construção mas com obras paradas. A paróquia de S. Justino (dedicada a este santo que fora filósofo em Roma e depois se converteu e morreu mártir mas que terá nascido ali mesmo em Nablus) é uma pequena comunidade que já foi muito maior, tendo chegado a ter duas igrejas, mas que devido à falta de paz, havendo cada vez mais cristãos a saírem de lá, ou impedidos de ali viverem, vai ficando mais pequena. Mas os que estão mostram uma vitalidade. São palestinianos de alma e coração, cristãos cujas memórias remontam ao tempo de Jesus. São aqueles que sempre estiveram naquela terra. Uma paróquia viva, com escuteiros e acólitos, com catequese, com um comunidade de irmãos de caridade que ajudam os pobres e idosos, com um pároco, ordenado há pouco mais de uma ano, cheio de entusiasmo. Foi impressionante a conversa com este sacerdote, um homem de fé e por isso de esperança, mas, com muito realismo, não esconde as suas preocupações e considera que a situação está longe de estar calma (...)”

Saboreei cada uma destas palavras, mas estarão a pensar a que título é que o título desta crónica comporta a palavra “títulos”! Ocorreu-me no início da semana passada, em que na comunicação social muito se falou da nomeação de um português, e nas glórias do mundo, para ocupar o cargo de vice-presidente do Banco Central Europeu. Afinal, quanto católicos portugueses sabem ou ouviram falar que o Padre Duarte da Cunha é o Secretário-Geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE)?
Já tratei dos títulos faltam-me os papéis! Considero o meu quarto e a Igreja dois locais com muita similitude! Em ambos me sinto bem, proporcionando a felicidade de poder abstrair-me, o que é muito diferente de fugir, dos “problemas do mundo”! Onde é que nesta frase entram os papéis? Se alguém deixar caído um papel no chão do meu quarto é natural que eu o apanhe e deite fora, o que me leva a “gritar” que não consigo perceber como se deixam tantos papéis, lenços, pastilhas e outro lixo na Casa de Deus? Posso e podemos involuntariamente a qualquer momento deixar lixo no chão numa Igreja sem nos apercebermos, mas não poderemos apanhar, não digo o de toda a Igreja, mas um simples papel que esteja junto ao local onde acabámos de fazer Eucaristia?

Para terminar, deixo mais duas “Sugestões para participar melhor na Missa”, retiradas de um artigo (S.D.L.) do jornal paroquial “Ecos” (n.º 147 de 16 de Maio de 2004):
8) Se sentes necessidade de tossir, tapa a tua boca com um lenço; e se te vais assoar fá-lo com o mínimo de ruído e em momento oportuno (não quando se proclamam as leituras ou se profere a homilia ou quando se está em silêncio): prejudicas-te a ti mesmo e aos outros.
9) Não sejas indiferente ao que se passa à tua volta, alguém que se sente mal, a uma criança que corre, a um idoso que não tem onde se sentar, a alguém que perturba a assembleia: tu és membro responsável desta família.

22 de fevereiro de 2010

Ano Sacerdotal - A Santa Missa (Boletim XVI)

A décima sexta contribuição para o boletim informativo da Paróquia de Nossa Senhora de Belém (Rio de Mouro), a newsletter n.º 91 relativa ao I Domingo da Quaresma.

Para não correr o risco de o Ano Sacerdotal passar sem o mencionar nestas crónicas, hoje quero referi-lo através de alguns apontamentos, que basicamente resultam de três cópias “soltas”.

“Não tem dúvidas em relação à fé e aos valores a respeitar. É de Santa Catarina esta afirmação: “... se me aparecesse um sacerdote e um anjo, eu faria uma reverência primeiro ao sacerdote e depois ao anjo (...). Mesmo que o sacerdote fosse um demónio encarnado, por seus pecados, não deixaria de o reverenciar pela sua grande dignidade.””
(retirado do livro “Eram como nós e melhoraram o mundo” de Maria Torres, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, Novembro de 2009, página 77)
Perante uma ideia tão cristalina de Santa Catarina de Sena, a nossa segunda Doutora da Igreja, proclamada a 4 de Outubro de 1970 pelo Papa Paulo VI, poucos dias depois de Santa Teresa de Jesus, não ouso acrescentar mais nada a esta frase da nossa irmã do século XIV que nem escrever sabia, razão pela qual as suas cartas foram ditadas, mas a quem o Senhor concedeu o dom da escrita, para escrever belos poemas místicos e compor música!

“– Havia aqui na paróquia um homem que morreu há poucos anos. Pela manhã, entrando na igreja para rezar as suas orações antes de ir para o campo, deixou os utensílios à porta e esqueceu-se de si mesmo diante de Deus. Um vizinho que trabalhava no mesmo lugar e que costumava vê-lo, estranhou a sua ausência. Voltando, resolveu entrar na igreja, julgando talvez encontrá-lo ali. De facto, encontrou-o. “Que fazes aqui tanto tempo?” perguntou-lhe. Ao que ele respondeu: “Olho para Deus e Deus olha para mim”.
A esta singela narração que gostava de repetir e que o fazia chorar cada vez, o Cura d’Ars acrescentava: “Ele olhava para Deus e Deus olhava para ele. Tudo consiste nisso, meus filhos”.”
(retirado do livro “O Cura d’Ars” de Francis Trochu, Edições Theologica, Braga 1987, página 215)
Como é que o São João Maria Baptista Vianney pode ser o Padroeiro oficial dos párocos? Esta pergunta conduziu-me a este livro e, apesar de ter “estagnado” há algum tempo à volta da página 400, e ainda me faltar um terço, a sua leitura tem sido reveladora, pelo que a recomendo vivamente. É-me difícil transpor para hoje o contexto e as convulsões do século XIX, mas o seu exemplo, humildade e amor ajudaram-me a descobrir uma resposta. Este episódio é tão só o que me surgiu ao abrir ao aleatoriamente o livro, muitos outros podia referir, mas perante tanta simplicidade e o enorme dom de chorar pelos irmãos, valeria a pena ir à procura de outro?

“Chegou o momento da comunhão dos celebrantes e voltei a notar a presença de todos os sacerdotes junto ao Monsenhor. Quando ele comungava, disse a Virgem:
“Este é o momento de pedir pelo celebrante e por todos os sacerdotes que o acompanham; repete Comigo: Senhor, bendizei-os, santificai-os, ajudai-os, purificai-os, amai-os, cuidai e sustentai-os com Vosso Amor.. Lembrai de todos os sacerdotes do mundo, rezai por todas as almas consagradas...”
Queridos irmãos, esse é o momento em que devemos pedir porque eles são Igreja, como também somos nós os leigos. Muitas vezes os leigos exigimos muito dos sacerdotes, mas somos incapazes de rezar por eles, de entender que são pessoas humanas, de compreender e avaliar a solidão que muitas vezes pode rodear um sacerdote.”
(do opúsculo “A Santa Missa – Testemunho de Catalina”, Missionária leiga do Coração Misericordioso de Jesus, Apostolado da Nova Evangelização, 2004, páginas 16 e 17, que pode ser obtido em: http://grandecruzada.leiame.net/ no separador “Os livros”)
Confesso que atendendo à sua proveniência (México, Brasil) fiquei de pé atrás, pois nós os europeus julgamo-nos muito mais esclarecidos na Fé que os povos do “novo” mundo, pensando que não estamos tão sujeitos às seitas; mas de quantos textos posso dizer que me deixaram alguma coisa no pensamento? Para além de que acreditar, ou não, que Nossa Senhora falou directamente à Irmã Catalina, em nada altera o fundamento da minha fé em Cristo.

Para terminar, deixo mais duas “Sugestões para participar melhor na Missa”, retiradas de um artigo (S.D.L.) do jornal paroquial “Ecos” (n.º 147 de 16 de Maio de 2004):
6) Se chegares antes da hora, poderás beneficiar duma preparação, especialmente no canto, que te ajudará a participar mais intensamente: as coisas boas costumam ter vésperas.
7) A missa dominical é uma celebração comunitária: não participes como se fosse um mero acto de piedade individual, mas une-te aos irmãos na oração, nos gestos, nas atitudes e no canto comuns. Não é preciso que toda a assembleia ouça a tua voz, basta que a ouça o teu vizinho – és membro de uma assembleia que louva a uma voz: que bela voz!...

1 de fevereiro de 2010

1/02/1970 (Boletim XV)

A décima quinta contribuição para o boletim informativo da Paróquia de Nossa Senhora de Belém (Rio de Mouro), a newsletter n.º 89 relativa ao V Domingo do Tempo Comum (PS: desta vez, antes do boletim ter sido divulgado!).

Penso que um dos princípios que um presumível cronista deve seguir é esforçar-se por escrever sobre assuntos que possam interessar a quem, eventualmente, irá ler as suas palavras. Não deverá escrever o que não é ou o que não sente, mas também deverá ter algum cuidado com os aspectos pessoais, que poderão não interessar às outras pessoas.
Acontece um pouco isso com esta data: 1 de Fevereiro de 1970. Foi há 40 anos e não vos dirá muito, alguns de vós ainda nem eram nascidos! Eu ainda nem 3 meses tinha e humanamente, como é natural, nada me recordo deste dia, que é a data do meu Baptismo. Nesse dia foram os meus Pais e Padrinhos que, por mim, assumiram o compromisso de viver em coerência com o dizer-me Cristão. Espero ter a lucidez e a alegria de conseguir prosseguir a minha caminhada dizendo, não um eu fui Baptizado em, mas sim um eu sou Baptizado desde 1/02/1970, acho que isso faz toda a diferença.
No dia seguinte, 2 de Fevereiro, festejamos um importante e profético momento da vida de Jesus, a Apresentação do Senhor (Festa). Tal como acontece com o Benedictus (o Cântico de Zacarias) e o Magnificat (o cântico de Maria), o Nunc dimittis (o Cântico de Simeão) pode acompanhar-nos todos os dias da nossa vida, pois este Cântico Evangélico faz parte da Oração de Completas (Cristo, luz das nações e glória de Israel).
Algumas palavras do Missal Popular, a propósito da Apresentação, que é a Epifania do quadragésimo dia após o Natal:
“Quarenta dias após o nascimento de Jesus, em obediência à lei de Moisés (Ex. 13, 11-13), Maria leva o Menino ao templo, a fim de ser oferecido ao Senhor. Toda a oferta implica renúncia. Por isso, a Apresentação do Senhor não é um mistério gozoso, mas doloroso. Começa, nesse dia, o mistério de sofrimento, que atingirá o seu ponto culminante no Calvário, quando Jesus, que não foi «poupado» pelo Pai, oferecer o Seu sangue como sinal da nova e eterna Aliança. Ao oferecer Jesus, Maria oferece-Se também com Ele. Durante toda a vida de Jesus, estará sempre ao lado do Filho, dando a Sua colaboração para a obra da Redenção.
O gesto de Maria, que «oferece», traduz-se em gesto litúrgico, quando ao celebramos a Eucaristia, oferecemos «os frutos da terra e do trabalho do homem», símbolo da nossa vida.
Antes da Missa, está prevista no Missal a procissão das velas, acesas em honra de Cristo que vem como luz das nações, e ao encontro de quem a Igreja caminha guiada já por essa mesma luz.”

Mas dois episódios recentes da minha vida de encontro com Deus, através dos meus irmãos:
O primeiro de colocar nas mãos do Senhor todas as minhas acções, quer as mais nobres, quer as mais tristes, pois é o que tenho de mais valioso para Lhe oferecer em cada ofertório Eucarístico. Há uma semana o desalento por uma sessão de catequese que correu não muito bem, e o seu tema era a Paz! Uma semana depois a enorme alegria, embora os meus méritos tenham sido mínimos, pela magnífica (longa) leitura que o jovem João Pedro fez do Cântico do amor, senti-me tocado e agradecido.
O segundo advém de um resumo de uma notícia do «Semanário Sol», que li na edição do «Destak» de 29 de Janeiro, intitulada “Crise de vocações esvazia conventos” (número de freiras baixou consideravelmente), no qual é referido que entre 2002 e 2008 houve uma redução de 2.500 freiras e que, segundo dados da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal, em 2008, havia 5.417 irmãs, distribuídas por 652 comunidades, enquanto que em 2002 existiam 7.995 freiras, integradas em 795 conventos.
Quando cheguei a casa, para alguns será apenas coincidência, tinha à espera uma carta da Irmã Susana Maria, do Carmelo de Santa Teresa de Coimbra. Nunca vi a Irmã a Susana, mas há cerca de dois anos e meio as palavras apaixonadas de uma colega de trabalho, sobre a sua sobrinha que, contra todas as expectativas do mundo, apesar da sua formação superior de enfermeira, da carreira profissional, beleza e juventude, resolve “abandonar” tudo e ingressar num convento de clausura... e rezar por todos nós. No Natal seguinte, um porque não enviar-lhe um postal de Natal? Esta é a segunda carta que recebo dela, como é natural as suas palavras são valiosas de mais para poder partilhá-las neste espaço, mas podes ter a certeza que, tendo iniciado o último ano antes da Consagração Solene (perpétua), procurarei responder à pergunta que me lanças: “Reze por mim, sim?”

Para terminar, deixo mais duas “Sugestões para participar melhor na Missa”, retiradas de um artigo (S.D.L.) do jornal paroquial “Ecos” (n.º 147 de 16 de Maio de 2004):
4) Ocupa um lugar livre, começando pela frente: uma comunidade reunida que se coloca à distância não parece uma assembleia unida na fé e no amor ao Senhor.
5) Concentra-te um pouco e repara no ambiente que foi especialmente preparado para aquela celebração: antegoza a maravilha dessa reunião da família de Deus (como é bom e agradável reunirem-se os irmãos...)