29 de setembro de 2009

A Noite de Iguana (Cinemateca)

Acabo de voltar de mais um soberbo filme na Cinemateca, no caso "The Night of the Iguana" realizado por John Huston em 1964 (125 min.), contando com as interpretações de Richard Burton, Deborah Kerr, Ava Gardner e Sue Lyon.

Uma incursão de Huston no universo de Tennessee Williams, numa história cheia de alegorias à vida de Jesus (Richard Burton), como o monte (Calvário), a tentação (a Lolita Sue Lyon), uma Maria Madalena (Ava Gardner), o Anjo de passagem (Deborah Kerr) e até os fariseus (o grupo excursionista das velhas professoras); como tão bem nos lembra o texto de Manuel Cintra Ferreira, pois a Cinemateca ao facultar textos sobre cada um dos filmes "obriga-nos" a meditar depois de os ver ("Mas o destaque vai para Deborah Kerr com a sua estranha sensualidade sublinhada, simultaneamente indiferente e contaminada pela viscosidade do clima de erotização da paisagem, anjo que assume a liberdade da castração, como se insinua no plano em que ela decepa a cabeça do peixe").
Mas a minha cena favorita, em que sabemos o que vai acontecer, é quando o velho poeta consegue finalmente terminar o seu poema, que há 20 anos tentava acabar, a traquilidade da beleza das palavras (poema), o saber que então, ao luar e rodeado de natureza, já só faltava ou podia rezar e... morrer!

A apresentação da Cinemateca: Nesta adaptação da peça de Tennessee Williams filmada no México, à beira mar, com fotografia de Gabriel Figueroa, Burton é um padre renegado e alcoólico que ganha a vida como guia turístico. Ainda um pouco "Lolita" como no Kubrick anterior (Lolita, 1962), Sue Lyon assume a descontraída pele de jovem tentação. No papel da livre Maxime, Ava Gardner é a dona da fabulosa estalagem que será o cenário do filme. Deborah Kerr é Hanna, auto-castrada neta do "poeta mais velho do mundo" por quem se faz acompanhar. THE NIGHT OF THE IGUANA é um dos mais reputados Huston. O mergulho pelos meandros do dilema entre o espírito e a carne, tema do último sermão do Reverendo Shannon na dramática sequência de abertura, é denso. A rodagem foi feliz.

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