6 de outubro de 2009

Amália

Adoro Fado, adoro a Amália.
(6 de Outubro de 1999... 10 anos de Saudade!)

Poderia escolher um dos inúmeros fados tristes, daqueles de fazer chorar as pedras da calçada. Mas curiosamente, um dos meus fados favoritos é um fado alegre. Assim, aqui deixo a letra de "Madrugada de Alfama", um fado com letra de David Mourão Ferreira e música de Alain Oulman:

Mora num beco de Alfama
E chamam-lhe a Madrugada
Mas ela de tão estouvada
Nem sabe como se chama.

Mora numa água-furtada
Que é a mais alta de Alfama
E que o sol primeiro inflama
Quando acorda a madrugada.
Mora numa água-furtada
Que é a mais alta de Alfama.

Nem mesmo na Madragoa
Ninguém compete com ela
Que do alto da janela
Tão cedo beija Lisboa.

E a sua colcha amarela
Faz inveja à Madragoa:
Madragoa não perdoa
Que madruguem mais do que ela.
E a sua colcha amarela
Faz inveja à Madragoa.

Mora num beco de Alfama
E chamam-lhe a Madrugada
São mastros de luz doirada
Os ferros de sua cama.

E a sua colcha amarela
A brilhar sobre Lisboa
É como a estátua de proa
Que anuncia a caravela
A sua colcha amarela
A brilhar sobre Lisboa.

E um pequeno apontamento do livro "Viagens na Minha Era (Dia-crónicas)" de Onésimo Teotónio Almeida (Círculo de Leitores), com um conjunto de crónicas para a revista LER deste açoriano, professor universitário no Departamento de Estudos Portugueses da Brown University (EUA):
Amália no Olimpo

Enquanto revejo estas dia-crónicas antes de as remeter para Lisboa, chega um e-mail do Francisco Craveiro, de Coimbra, a dizer-me que morreu a Amália. Ontem foi feriado ― 5 de Outubro ― e hoje o país, imagino, fará outro.
Sobre ela os media dirão tudo, e nada que valha a pena terei a acrescentar. Graças à tecnologia, poderei continuar a tê-la presente, entre o fado de Coimbra, os coros alentejanos e o folclore dos Açores, todos companheiros meus de auto-estrada. Fica apenas esta história que imagino esteja porventura registada nalguma entrevista, mas que desconhecia até a ouvir da boca da própria Amália.
Numa das suas passagens pela Nova Inglaterra pedi-lhe que fosse ao meu "Daqui e da Gente", um programa sociocultural que há vinte anos mantenho na TV-cabo de New Bedford. A dada altura conduzi a conversa para a sua experiência americana, pois sabia que no início da sua carreira um empresário quisera lançá-la nos Estados Unidos e ela chegara a Nova Iorque com essa ideia. Mas gorou-se em pouco tempo a tentativa:
― Apercebi-me de que queriam profissionalizar-me à americana, com um rol de ensaios, circuitos de promoção muito intensos, viagens... Deu-me saudades das sardinhas de Lisboa e fui-me embora.

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