"O Caminho Menos Percorrido" de M. Scott Peck (Sinais de Fogo, 2005), psiquiatra norte-americano, é um livro de desenvolvimento (ajuda) espiritual (uma nova psicologia do amor, dos valores tradicionais e do desenvolvimento espiritual), que me veio parar às mãos no âmbito de uma troca natalícia de livros num grupo católico de reflexão, com raízes em Taizé, e raízes fortes, como as que nascem de um "qualquer" "Grão de Mostarda"!
Confesso que a temática não me seduz muito, afinal, para mim, não é muito agradável ler sobre as nossas (minhas) atitudes, defeitos e medos... Além do mais, há muito tempo que não lia um livro, para mais de 347 páginas, sem colocar X's ("xises") de lado (o que para o fim do livro me levou a apontar o n.º de algumas páginas/passagens para esta entrada!) e, muito mais engraçado, foi ler também os comentários que a dona do livro escreveu ao lê-lo!!! (Obrigado Marina!)
Para além da ideia geral sobre o livro, costumo deixar alguma(s) passagem(ens) que assinalei, pelo desta vez tive o trabalho dificultado...
"Mais elegante e adequadamente descritiva da situação do que a linguagem científica do século XX de membranas permeáveis é a liguagem religiosa, do século XIV (c. 1393) da Dama Julian, uma anacoreta de Norwich, ao descrever a relação entre a graça e a entidade individual: "Pois como o corpo se veste de tecido, e a carne de pele e os ossos de carne e o coração de tudo isso, assim nós nos vestimos, de corpo e alma, e estamos envolvidos na bondade de Deus. Sim, e mais simples; porque todos eles se podem gastar e fenecer, mas a bondade de Deus permanece sempre." (Revelation of Divine Love, Grace Warrack, ed. (Nova Iorque: British Book Centre, 1923), Cap. VI.")
"Aquilo de que falamos relativamente a acontecimentos paranormais com consquências benéficas é o fenómeno do serendipismo. O dicionário Webster define o serendipismo como "o dom de encontrar coisas valiosas ou agradáveis não procuradas."" (PS: pensei que o contrário, mas apenas em metade da definição, ou seja, encontrar coisas agradáveis procuradas, é... a Oração a/de Santo António!!!!)
"É a estas formas de narcisismo mais ligeiras mas de qualquer forma destrutivas, que se dirige Kahlil Gibran, no que são talvez as mais belas palavras jamais escritas sobre a educação dos filhos:
Os teus filhos não são os teus filhos.
São os filhos e as filhas do desejo da Vida por si própria.
Vêm através de ti mas não de ti,
E embora estejam contigo, não te pertencem.
Podes dar-lhes o teu amor, mas não os teus pensamentos,
Porque eles têm os seus próprios pensamentos.
Podes alojar-lhes os corpos mas não as almas,
Porque as almas deles vivem na casa do amanhã, que tu não podes visitar, nem sequer em sonhos.
Podes lutar por ser como eles, mas não tentes fazê-los ser como tu.
Porque a vida não anda para trás nem espera pelo passado
Tu és o arco a partir do qual são disparados os teus filhos como setas vivas.
O arqueiro vê o alvo no caminho do infinito, e arqueia-te com a Sua força para que a Sua flecha possa ir longe e veloz.
Deixa que o teu arquear às mãos do arqueiro seja de satisfação;
Porque assim Ele ama a seta que voa, ama também o arco que é firme."
(The Prophet (Nova Iorque: Alfred A. Knopf, 1951), pp. 17-18)
"Desta forma, o desenvolvimento individual e o da sociedade são interdependentes, mas o cume do desenvolvimento é sempre e inevitavelmente solitário. É da solidão da sua sabedoria que nos fala outra vez o profeta de Kahlil Gibran, sobre casamento:
Mas que haja espaços na vossa união,
E que os ventos dos céus dancem entre vós.
Amai-vos um ao outro, mas não façam do amor um elo:
Deixem-no antes ser um mar que se move entre as praias das vossas almas.
Encham a taça um do outro mas não bebam só de uma taça.
Dêem do vosso pão um ao outro mas não comam do mesmo pão.
Cantem e dancem juntos e alegrem-se, mas deixem que cada um esteja só,
Tal como as cordas duma harpa estão sós embora vibrem com a mesma música.
Dêem os vossos corações, mas não para que cada um os guarde.
Porque só a mão da Vida pode conter os vossos corações.
E mantenham-se juntos mas não demasiados próximos:
Porque os pilares do templo estão afastados,
E o carvalho e o cipreste não crescem na sombra um do outro."
(The Prophet, pp. 15-16)
Para terminar, o "Amazing Grace", famoso hino evangélico americano:
"Assombrosa graça! Como é doce o som
Que salvou um desgraçado como eu!
Eu estava perdido, mas agora fui encontrado,
Estava cego, e agora vejo.
Foi a graça que ensinou o meu coração a temer,
E a graça aliviou os meus receios;
Que preciosa se mostrou a graça
Na primeira hora em que acreditei!
Por muitos perigos, trabalhos e armadilhas,
Já passei;
Foi a graça me conduzirá até casa.
E quando lá tivermos estado dez mil anos,
Brilhando como sol,
Não teremos menos dias para cantar em louvor de Deus
Do que quando começámos."
(Amazing Grace, por John Newton (1725-1807))