O que gosto mais gosto nos museus e Igrejas com arte-sacra é tentar descobrir o título ou passagem dos evangelhos que retratam ou o santo a que dizem respeito, o que muitas vezes não consigo, embora depois de ver a solução (título) conclua que estava mesmo à frente do nariz!
O Museu de São Roque tem essa possibilidade, iniciando-se a visita pela evocação da Ermida de São Roque, erigida no local em 1506 após o rei D. Manuel I, no contexto de um surto de peste que assolou Lisboa em 1505, ter solicitado à República de Veneza uma relíquia de São Roque, pois o santo era conhecido pelos milagres em favor das populações que sofriam de peste.
Segue-se a evocação da Companhia de Jesus, que em virtude do apoio do rei D. João III chegou a Portugal em 1540, o ano da sua aprovação pelo Papa Paulo III, e que tomou posse da ermida. Em 1555 iniciaram-se obras de ampliação da ermida, que no entanto foram abandonadas para a construção de uma Igreja de raiz que foi aberta ao culto em 1573, apesar de inacabada, como Igreja e antiga Casa Professa de São Roque. Depois passa-se a uma área de arte oriental, atendendo ao papel dos missionários jesuítas, e a um núcleo dedicado à Capela de São João Baptista, cuja construção teve lugar em Roma, entre 1742 e 1747, pois foi transportada para Portugal em três naus, para mostrar o brilho e o requinte do reino, tendo D. João V, à custa do ouro do Brasil, promovido muitas encomendas de obras de arte e grandes projectos arquitectónicos, e sido inaugurada em 1752, já no reinado de D. José I, e assente numa capela lateral da Igreja de São Roque. Cheia de peças de culto e ornamentais de grande valor, o objectivo era impressionar quem a visitava, mostrando um Estado que em nada ficava atrás das principais potências europeias da época, o que hoje nos causa alguma estranheza, ou talvez não!
A visita ao museu termina com um núcleo dedicado à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, iniciando-se a exposição com a sua mentora, a grande Rainha D. Leonor (mulher do rei D. João II, o Príncipe Perfeito), que a fundou em 1 5 de Agosto de 1498, e que esteve sediada primeiro numa capela do claustro da Sé e foi transferida em 1534, até ao terramoto de 1755, para a Igreja da Conceição Velha. Em 1759 a Companhia de Jesus foi expulsa do reino de Portugal, pelo que a Igreja e Casa de São Roque foram doadas à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), que desde 1768 tem aí a sua sede. PS: também marcou pontos uma escultura do Menino Jesus Caminhante!
Como o Museu de São Roque promove mensalmente a apresentação de uma peça do seu acervo, pude beneficiar de uma folha com algumas notas sobre o quadro/tábua "Nossa Senhora da Misericórdia" de Domingos Vieira Serrão, do final do século XVI, pintor régio de Filipe I de Portugal, que foi adquirida pela SCML em 1983. A representação do clero e da nobreza, ajoelhados e em atitude de prece, salta à vista na parte inferior, mas se não fosse o papel talvez me passasse despercebida o pedinte e a criança que, representados de costas, encaram a Virgem de frente, simbolizando a preferência mariana pelos humildes.
A visita só podia terminar na Igreja de São Roque, cheia de turistas, em que somos esmagados pela sua riqueza a grandiosidade e que os vigilantes quase que nos fazem esquecer que já não estamos num Museu, mas sim numa Igreja, mas, a apesar de passar despercebido a muitos turistas, o Santíssimo Sacramento está lá para nos lembrar o mais importante!
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