Apesar de não ser muito conhecido em Portugal, atendendo a que este ano se comemora o centenário do seu nascimento e hoje o décimo ano da sua morte, hoje trago-vos um grande Homem, arcebispo emérito de Olinda e Recife, D. Hélder Câmara (Fortaleza, 7/02/1909 - Recife, 27/08/1999).
Pela sua acção foi apodado de "Bispo Vermelho", um pouco à semelhança do nosso Bispo emérito de Setúbal, D. Manuel da Silva Martins, a quem curiosamente atribuíram o mesmo epíteto.
Pela sua acção foi apodado de "Bispo Vermelho", um pouco à semelhança do nosso Bispo emérito de Setúbal, D. Manuel da Silva Martins, a quem curiosamente atribuíram o mesmo epíteto.
Não tenho grande conhecimento da vida de D. Hélder Câmara, mais facilmente se encontra informação na internet, como na Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hélder_câmara
O meu primeiro "contacto" com D. Hélder Câmara deu-se através do belíssimo livro "Memórias de um Crente" de Abbé Pierre (Libraire Arthème Fayard, 1997/ Gráfica de Coimbra), pelo que aqui deixo um trecho do “Capítulo I – Tu que libertas” da Terceira parte “Rumo ao encontro”:
"No verão de 1996, tive a alegria de passar alguns dias no Brasil ao pé do meu irmão Dom Helder Câmara, por ocasião dos seus sessenta anos de sacerdócio. Odiado por uma parte do rico clero brasileiro que lhe chama o “bispo vermelho”, Helder Câmara é a esperança dos pobres, de todos aqueles que não desistiram de acreditar no Evangelho apesar dos faustos da Igreja e da sua cumplicidade com os ricos proprietários que os oprimem.
Logo após ter sido nomeado bispo do Recife, Helder Câmara decide abandonar os lambris do palácio episcopal para ir viver numa modesta casa no meio do amontoado de barracas da sua cidade. Este gesto tão evangélico suscitou reacções muito violentas. Durante décadas, Dom Helder foi incessantemente ameaçado de morte.
Um dia, ao abrir as portadas da janela do seu pequeno quarto, deparou-se com um dos seus jovens padres enforcado, torturado, com os olhos arrancados e um cartaz ao pescoço: “Esperando a tua vez”. O que censuram sobretudo a Dom Helder é a dimensão política da sua luta.
Porque, como é evidente, tendo consagrado a vida a pregar o Evangelho e a ajudar os pobres a viverem em condições mais decentes, a sua actuação teve repercussões políticas. Não nos esqueçamos, porém, de que a fé cristã implica o empenhamento na vida concreta e que é pregando uma justa partilha entre os homens que se combate a injustiça.
Quando da cerimónia do verão de 1996, o bispo de Recife, seu sucessor, estava ausente. Compreendi porquê ao ver a multidão imensa de pobres que acorreram a aclamar o seu antigo bispo. Que lugar poderia ocupar, nesta hora, aquele que agora deitava por terra todas as iniciativas lançadas por Dom Helder até à sua resignação aos 75 anos? Apesar de tudo, estavam presentes cinco bispos, autênticos discípulos de Dom Helder que, tal como ele, se apresentaram sem mitra, sem cruz de ouro, mas trazendo ao pescoço um cordão com uma simples cruz de madeira."
O meu primeiro "contacto" com D. Hélder Câmara deu-se através do belíssimo livro "Memórias de um Crente" de Abbé Pierre (Libraire Arthème Fayard, 1997/ Gráfica de Coimbra), pelo que aqui deixo um trecho do “Capítulo I – Tu que libertas” da Terceira parte “Rumo ao encontro”:
"No verão de 1996, tive a alegria de passar alguns dias no Brasil ao pé do meu irmão Dom Helder Câmara, por ocasião dos seus sessenta anos de sacerdócio. Odiado por uma parte do rico clero brasileiro que lhe chama o “bispo vermelho”, Helder Câmara é a esperança dos pobres, de todos aqueles que não desistiram de acreditar no Evangelho apesar dos faustos da Igreja e da sua cumplicidade com os ricos proprietários que os oprimem.
Logo após ter sido nomeado bispo do Recife, Helder Câmara decide abandonar os lambris do palácio episcopal para ir viver numa modesta casa no meio do amontoado de barracas da sua cidade. Este gesto tão evangélico suscitou reacções muito violentas. Durante décadas, Dom Helder foi incessantemente ameaçado de morte.
Um dia, ao abrir as portadas da janela do seu pequeno quarto, deparou-se com um dos seus jovens padres enforcado, torturado, com os olhos arrancados e um cartaz ao pescoço: “Esperando a tua vez”. O que censuram sobretudo a Dom Helder é a dimensão política da sua luta.
Porque, como é evidente, tendo consagrado a vida a pregar o Evangelho e a ajudar os pobres a viverem em condições mais decentes, a sua actuação teve repercussões políticas. Não nos esqueçamos, porém, de que a fé cristã implica o empenhamento na vida concreta e que é pregando uma justa partilha entre os homens que se combate a injustiça.
Quando da cerimónia do verão de 1996, o bispo de Recife, seu sucessor, estava ausente. Compreendi porquê ao ver a multidão imensa de pobres que acorreram a aclamar o seu antigo bispo. Que lugar poderia ocupar, nesta hora, aquele que agora deitava por terra todas as iniciativas lançadas por Dom Helder até à sua resignação aos 75 anos? Apesar de tudo, estavam presentes cinco bispos, autênticos discípulos de Dom Helder que, tal como ele, se apresentaram sem mitra, sem cruz de ouro, mas trazendo ao pescoço um cordão com uma simples cruz de madeira."
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