29 de agosto de 2009

Martírio de São João Baptista

Poucos Santos têm memória em mais que um dia ao longo do ano, São João Baptista é um desses casos. A Oração das Laudes de hoje:
Senhor, que na vossa admirável providência quisestes que São João Baptista fosse o Precursor do nascimento e da morte de vosso Filho, concedei-nos que, assim como ele deu a sua vida pela justiça e pela verdade, também nós saibamos lutar corajosamente pela confissão da fé. Por Nosso Senhor.

E duas fotografias de Ain Karem, a terra de nascimento de São João Baptista, local da Visitação (Lc 1, 39-56), que por sinal é bem longe da Galileia, uma das quais junto ao Baptistério da Igreja de São João Baptista.

27 de agosto de 2009

D. Hélder Câmara (1909-1999)

Apesar de não ser muito conhecido em Portugal, atendendo a que este ano se comemora o centenário do seu nascimento e hoje o décimo ano da sua morte, hoje trago-vos um grande Homem, arcebispo emérito de Olinda e Recife, D. Hélder Câmara (Fortaleza, 7/02/1909 - Recife, 27/08/1999).
Pela sua acção foi apodado de "Bispo Vermelho", um pouco à semelhança do nosso Bispo emérito de Setúbal, D. Manuel da Silva Martins, a quem curiosamente atribuíram o mesmo epíteto.
Não tenho grande conhecimento da vida de D. Hélder Câmara, mais facilmente se encontra informação na internet, como na Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hélder_câmara

O meu primeiro "contacto" com D. Hélder Câmara deu-se através do belíssimo livro "Memórias de um Crente" de Abbé Pierre (Libraire Arthème Fayard, 1997/ Gráfica de Coimbra), pelo que aqui deixo um trecho do “Capítulo I – Tu que libertas” da Terceira parte “Rumo ao encontro”:
"No verão de 1996, tive a alegria de passar alguns dias no Brasil ao pé do meu irmão Dom Helder Câmara, por ocasião dos seus sessenta anos de sacerdócio. Odiado por uma parte do rico clero brasileiro que lhe chama o “bispo vermelho”, Helder Câmara é a esperança dos pobres, de todos aqueles que não desistiram de acreditar no Evangelho apesar dos faustos da Igreja e da sua cumplicidade com os ricos proprietários que os oprimem.
Logo após ter sido nomeado bispo do Recife, Helder Câmara decide abandonar os lambris do palácio episcopal para ir viver numa modesta casa no meio do amontoado de barracas da sua cidade. Este gesto tão evangélico suscitou reacções muito violentas. Durante décadas, Dom Helder foi incessantemente ameaçado de morte.
Um dia, ao abrir as portadas da janela do seu pequeno quarto, deparou-se com um dos seus jovens padres enforcado, torturado, com os olhos arrancados e um cartaz ao pescoço: “Esperando a tua vez”. O que censuram sobretudo a Dom Helder é a dimensão política da sua luta.
Porque, como é evidente, tendo consagrado a vida a pregar o Evangelho e a ajudar os pobres a viverem em condições mais decentes, a sua actuação teve repercussões políticas. Não nos esqueçamos, porém, de que a fé cristã implica o empenhamento na vida concreta e que é pregando uma justa partilha entre os homens que se combate a injustiça.
Quando da cerimónia do verão de 1996, o bispo de Recife, seu sucessor, estava ausente. Compreendi porquê ao ver a multidão imensa de pobres que acorreram a aclamar o seu antigo bispo. Que lugar poderia ocupar, nesta hora, aquele que agora deitava por terra todas as iniciativas lançadas por Dom Helder até à sua resignação aos 75 anos? Apesar de tudo, estavam presentes cinco bispos, autênticos discípulos de Dom Helder que, tal como ele, se apresentaram sem mitra, sem cruz de ouro, mas trazendo ao pescoço um cordão com uma simples cruz de madeira."

26 de agosto de 2009

Miguel Torga (Diários) - IV

Coimbra, 6 de Fevereiro de 1936

BRINQUEDO
Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe.

O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão;
E a estrela ia subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.

Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel.
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel.

25 de agosto de 2009

Miguel Torga (Diários) - III

Coimbra, 4 de Fevereiro de 1935
Que belo é ter um amigo! Ontem eram ideias contra ideias. Hoje é este fraterno abraço a afirmar que acima das ideias estão os homens. Um sol tépido a iluminar a paisagem da paz onde esse abraço se deu, forte e repousante. Que belo e natural é ter um amigo!

24 de agosto de 2009

e... trabalho! (S. Bartolomeu)

Apesar de ter tido a estranha "sensação" que em 3 semanas me esqueci do trabalho a fazer, felizmente pude recomeçar devagar, deu para saborear novamente os agradáveis e frescos 7 minutos de rua Augusta pela manhã e os bonitos, por entre as inúmeras turistas, e quentes 7 minutos de rua Augusta à tarde.
Que me fazem lembrar "A Brisa do Coração" da Dulce Pontes, através do Marcello Mastroianni a subir/descer a rua Augusta no filme "Afirma Pereira", realizado pelo italiano Roberto Faenza, a partir do livro "Afirma Pereira" de Antonio Tabucchi, italiano, mas português por "adopção".

A letra/poema é de Francesco de Melis e Emma Scoles e a música de Ennio Morricone, e a Dulce Pontes canta "A Brisa do Coração":
O segredo a descobrir está fechado em nós
O tesouro brilha aqui embala o coração mas
Está escondido nas palavras e nas mãos ardentes
Na doçura de chorar nas carícias quentes (refrão)

No brilho azul do ar uma gaivota
No mar branco de espuma sonoro
Curiosa espreita as velas cor de rosa
À procura do nosso tesouro

A brisa brinca como uma gazela
Sobre todo o branco e a rua do Ouro
Curiosa espreita a fresta da janela
À procura do nosso tesouro

(24 de Agosto) São Bartolomeu, Apóstolo
Mas nem toda a gente tem a sorte de recomeçar com uma Festa!!!
Pelo que pude começar o dia com: "Ó Apótolo sincero/ Ó grande Bartolomeu/ Apontai-nos o caminho/ Que leva da terra ao Céu..."
«Aí vem um verdadeiro israelita, em que não há fingimento.» (Jo 1, 47)

23 de agosto de 2009

Miguel Torga (Diários) - II

Coimbra, 6 de Março de 1933
Estoirei-me hoje de um carro eléctrico abaixo por causa de um filme de Charlot. Ia morrendo, ou pelo menos ficando sem um braço. Mas o filme mereceu o fato inutilizado e merecia também o braço a menos.

Miguel Torga (Diários) - I

Comecei finalmente a ler os "Diários" do Miguel Torga (1907-1995), que tenho a certeza, se é que se pode dizê-lo, adorarei. Os diários (XVI volumes) têm a vantagem de poderem ser lidos conjuntamente com outros livros e trá-los-ei paulatinamente para o blogue, sendo até uma forma de fazer uma leitura também calma, "saboreando" as palavras e os poemas do grande Torga, sentindo a pouco e pouco a sua vida, pois eles escreveu-os ao longo de mais de 60 anos (entre 3/01/1932 e 10/12/1993).

Aqui deixo a primeira entrada (poema):
Coimbra, 3 de Janeiro de 1932

SANTO-E-SENHA
Deixem passar quem vai na sua estrada.
Deixem passar
Quem vai cheio de noite e de luar.
Deixem passar e não lhe digam nada.

Deixem, que vai apenas
Beber água de Sonho a qualquer fonte;
Ou colher açucenas
A um jardim que ele lá sabe, ali defronte.

Vem da terra de todos, onde mora
E onde volta depois de amanhecer.
Deixem-no pois passar, agora

Que vai cheio de noite e solidão.
Que vai ser
Uma estrela no chão.

Confesso que Vivi

Senti quase o mesmo que quando me "aproximei" da poetiza Sophia de Mello Breyner Adresen através do belíssimo livro de prosa "Contos Exemplares". Também com o poeta chileno Pablo Neruda (Prémio Nobel da Literatura de 1971), este livro de memórias em prosa foi a minha "escada" de acesso que não sei onde me levará?!?
Pablo Neruda (1904-1973) é o poeta mais lido e mais querido nos anos 60 e 70 e era afinal um poeta comunista. Diplomata, deputado, candidato à presidência, sempre foi empenhado politicamente, escrevia milhares de páginas de poemas ainda hoje apaixonantes. Não havia qualquer incompatibilidade. Eram a sua forma de amar a natureza e o homem.

Aqui deixo 3 passagens deste "Confesso que Vivi" de Pablo Neruda:
"Se os poetas respondessem com verdade aos inquéritos, revelariam o segredo: nada há de mais belo que perder tempo. Cada qual tem o seu estilo para tão antiga maneira de viver";
"Lembrei-me que, numa discussão sobre o problema de ter Shakespeare escrito ou não as suas obras, discussão académica e absurda, Mark Twain, intervindo, opinou: «Na verdade, não foi William Shakespeare quem escreveu esses livros, mas outro inglês que nasceu no mesmo dia e à mesma hora que ele, que morreu também na mesma data e que, para agravar as coincidências, se chamava também William Shakespeare»" e
"Juntei na minha casa brinquedos pequenos e grandes, sem os quais não poderia viver. A criança que não brinca não é criança; mas o homem que não brinca perdeu para sempre a criança que nele vivia e que tanta falta lhe faz ao longo de toda a existência. Construí também a minha casa como um brinquedo e com ela brinco de manhã à noite".

Para terminar, e porque o "Confesso que Vivi" não tem um único poema, aqui fica também o único poema de Pablo Neruda que consta do livro "Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro" (Assírio & Alvim - Porto 2001):
UNIDADE
Há algo denso, unido, sentado no fundo,
a repetir seu número, seu sinal idêntico.
Como se nota que as pedras tocaram o tempo,
em sua fina matéria há um olor a idade,
e à água que traz o mar, de sal e sonho.

Rodeia-me uma mesma coisa, um movimento único:
o peso do mineral, da luz, do mel,
colam-se ao som da palavra noite:
a tinta do trigo, do marfim, do pranto,
as coisas de couro, de madeira, de lã,
envelhecidas, debotadas, uniformes,
unem-se em meu redor como paredes.

Trabalho surdamente, a girar sobre mim mesmo,
como o corvo sobre a morte, o corvo de luto.
Penso, isolado na extensão das estações,
central, cercado por uma geografia silenciosa:
uma temperatura parcial cai do céu,
um extremo império de confusas unidades
reúne-se a cercar-me.
(tradução: José Bento)

22 de agosto de 2009

Virgem Santa Maria, Rainha

(22 de Agosto) Virgem Santa Maria, Rainha
Hoje é dia da nossa Rainha e achei muito belo o Hino da Laudes.

Do livro "Arautos da Santidade - Vida dos Santos (Tu solus sanctus)" de António J. Dias f.m.s. (Editora Rei dos Livros, Abril de 2001):
Esta memória litúrgica deriva da festa de S. Maria Rainha, instituída por Pio XII, para ser celebrada a 31 de Maio. Depois da reforma pós-conciliar, passou de festa a memória na oitava da Assunção.
A Virgem de Nazaré bem o disse no seu hino de louvor ao Senhor: "Todas as gerações me chamarão bem-aventurada". Pelo facto de ser Mãe do Senhor, o Príncipe da Paz, passou ela a ter jus a ser exaltada por todas as criaturas do céu e da terra, como Rainha, em dignidade.
"Não é ela o arco-íris erguido sobre as nuvens como sinal de pacífica aliança? Todo aquele que a quiser honrar, invoque-a como Rainha e medianeira da Paz", escrevia Pio XII.
Nós, Maristas, por disposição do nosso santo fundador, começamos o dia pela invocação desta poderosa Rainha para que nos defenda de todo o mal, a fim de merecermos à hora da nossa morte contemplar o rosto glorioso do filho bendito do seu ventre.

Da "Liturgia das Horas", o belo Hino das Laudes de hoje:
Esplendor das alturas imortais,
Ó Filha eleita do Senhor! Bendita!
Do trono em que reinais,
Olhai a terra aflita.

Em Vós pulsou o Coração de Deus
Que Se fez carne em Vós, por nosso amor.
Oh milagre dos Céus,
Mistério salvador!

Todo o universo, ó Virgem, Vos venera,
Porque trouxestes, sobre o mundo em ruínas,
A clara Primavera
Das eternas Colinas.

Convosco, ó Virgem, à Trindade santa,
Ao nosso Deus, ao nosso Redentor,
A Igreja reza e canta
Um hino de louvor.

21 de agosto de 2009

Os Falsificadores

"Os Falsificadores" tinha para mim um grande cartão de visitas, pois foi galardoado em 2008 com o Oscar mais importante, que é o Oscar de... melhor filme estrangeiro!

Sinopse: Salomon Sorowitsch, um boémio e vigarista, preso num campo de concentração aceita em 1944 ajudar os nazis numa operação organizada de falsificação destinada a financiar o esforço de guerra.
Foi a maior falsificação de dinheiro de todos os tempos. Foram impressas mais de 130 milhões de libras esterlinas. Os alemães tinham percebido que o fim estava perto e a falsificação de dinheiro era uma forma de inundar as economias dos seus inimigos e encher os cofres que a guerra tinha esvaziado.
No campo de concentração de Sachsenhausen, dois barracões transformados num oficina de falsificação, para onde foram recrutados prisioneiros de vários campos: tipógrafos, empregados de banco e outros artífices. Se colaborassem com os alemães, integrando um comando de falsificadores, estes homens teriam uma hipótese de sobreviver aos campos, como prisioneiros de primeira classe. Mas os falsificadores não estavam apenas interessados em salvar as suas vidas, queriam também salvar as suas consciências...

Gosto bastante dos filmes desta triste época da história humana, a II Guerra Mundial, onde prepassam quase sempre uma tensão entre colaborar ou resistir, onde as atitudes mais nobres ou vis surgem, muitas vezes, de onde menos se espera! Além do mais, o filme é baseado numa história verídica (a Operação Bernhard), contendo o DVD um pequeno documentário de 10 minutos onde Adolf Burger, nascido da Eslováquia, e que foi consultor do filme, nos explica na primeira pessoa alguns dos episódios vividos por estes "estranhos" prisioneiros. O seu testemunho fez-me recordar o livro "Se é isto o homem" de Primo Levi, sem dúvida, muito mais violento, onde percebemos que a escala da degradação humana terá ultrapassado todos os limites imagináveis?!?

20 de agosto de 2009

4 meses, 3 semanas e 2 dias

Confesso que fui atrás dos prémios, pois este filme ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes (2007). O "4 meses, 3 semanas e 2 dias", "4 luni, 3 săptămâni şi 2 zile" em romeno, é um filme um bocado rude e inquietante, sobre o aborto e a amizade, com uma violência sempre presente, embora o mais violento para mim até tenha sido uma palavra... "Aquilo".
Gostei dos comentários do realizador (Cristian Mungiu) pois, ao contrário do filme, em que a minha atenção não estava no que ouvia, nesta entrevista pude perceber porque é que o romeno é uma língua latina, com muitas palavras quase iguais às portuguesas!

19 de agosto de 2009

O Desejo de Kianda

"O Desejo de Kianda" foi o segundo romance que li do escritor angolano Pepetela (nascido em 1941), Prémio Camões em 1997. Após o enorme "A Gloriosa Família", uma saga com quase 400 páginas, este pequeno livro leva-nos a saborear o mundo fantástico dos espíritos (e de prédios habitados a cair sem causarem vítimas), ao mesmo tempo que nos confronta com as duras condições de vida de Luanda, fruto da política e da guerra.
Aqui deixo três curtas passagens:
"Carmina era agora frequentadora habitual das boutiques de luxo que conviviam com a miséria indescritível dos refugiados e das crianças órfãs ou abandonadas que enchiam as ruas da capital, dormindo ao relento nos pórticos da Avenida Marginal ou na areia da Ilha de Luanda";
"Carmina chamou o criado e encomendou uma garrafa de champanhe, o mais caro francês, porque em Luanda sempre foi assim, temos fome e o melhor champanhe francês e uísque velho. Muitos morrem por ingerirem caporroto barato, destilado clandestinamente com pilhas para acelerarem a fermentação, mas esses não contam, são os marginalizados do processo, deste e do anterior";
"Luanda se ia enchendo de gente fugida da guerra e da fome, num galopante e suicidário crescimento. Milhares de crianças sem abrigo vagueavam pelas ruas, milhares de jovens vendiam e revendiam coisas aos que passavam de carro, mutilados sem conta emolavam nos mercados. Simultaneamente as pessoas importantes tinham carros de luxo, de vidros fumados, ninguém que lhes via a cara, passavam por nós e talvez nem olhassem para não se incomodarem com o feio espectáculo da miséria."

18 de agosto de 2009

Kandahar

Mais um belíssimo filme do Irão, este "Kandahar" de Mohsen Makhamalbaf (2001).
Sinopse: Nafas é uma jovem jornalista afegã que se refugiou no Canadá. Recebe uma carta desesperada da sua irmã mais nova, que ficou no Afeganistão e decidiu suicidar-se antes do iminente eclipse solar que se aproxima. Nafas saiu do seu país durante a guerra civil. Decide voltar e ajudar a sua irmã, em Kandahar, tentando atravessar a froteira irano-afegã.
O filme termina, às portas de Kandahar (vista através de uma burka), sem sabermos se Nafas conseguirá salvar a sua irmã, que foi vítima de uma mina anti-pessoal quando era criança, com as seguintes palavras: "Sempre consegui evitar as diversas prisões que tolhem as mulheres afegãs, mas hoje vejo-me prisioneira de cada uma dessas prisões, somente por ti, minha irmã."

A cena da distribuição pela Cruz Vermelha (Crescente Vermelho ou, o recente, Cristal Vermelho) de próteses para as vítimas de minas anti-pessais é dura e um bocado surreal, embora saiba que a realidade, infelizmente, e apenas devido à estupidez humana, a ultrapasse em muito. Esta cena fez-me recordar a Petição de Lisboa, com as belíssimas palavras da Sophia, que no pavilhão da Cruz Vermelha Portuguesa na Expo’98 pude ler e assinar:
PETIÇÃO DE LISBOA
Todas as guerras são atrozes mas as minas anti-pessoais são uma forma especial de atrocidade.
Quando a guerra termina, as minas escondidas na terra, mudas e quietas, continuam activas e prontas a explodir, a matar ou esfacelar o corpo vivo que as toque.
São milhões espalhadas nos países onde houve guerra e atingem sobretudo mulheres e crianças. E porque a terra está semeada de morte não é possível plantar nela o alimento das populações. São uma forma de guerra cobarde e uma armadilha que atinge os mais incautos, mulheres e crianças. São uma forma de guerra que invade a paz, uma forma de guerra que se transforma numa forma de genocídio.
Nas minas anti-pessoais há o mesmo princípio de perversão existente nas guerras químicas, biológicas e atómicas.
A maioria dos países presentes em 1997 na Convenção de Otawa tomaram o compromisso de pôr fim ao fabrico, compra, venda e colocação de minas anti-pessoais. Mas alguns países, entre eles os Estados Unidos, a China e a Rússia, não assinaram este acordo.
Esperamos que em breve todas as nações reconsiderem e dêem a sua adesão à Convenção de Otawa, pois a tragédia das minas anti-pessoais tomou um carácter global.
Nos últimos séculos a ciência fez contínuos progressos. Agora é tempo de informarmos todas as populações e de inventarmos a prática de uma nova moral nas relações internacionais.

É fácil pedir perdão pelos erros passados.
É mais nobre, humano e útil pôr fim aos erros do presente.
Sophia de Mello Breyner Andresen

Embora os dados já estejam desactualizados, afinal o folheto é de 1998, e era bom que até fosse por excesso, aqui deixo também alguns dados do folheto da Campanha de desminagem em Angola e Moçambique:
“As mina são uma realidade. As suas vítimas também. / Existem mais de 110 milhões de minas espalhadas no território de 71 países. / Só em Angola existem cerca de 10 milhões e em Moçambique perto de 3 milhões. / Estima-se que em cada mês as minas matam 800 pessoas e mutilam outras 1.200, fazendo um total de 2.000 vítimas por mês. / De 20 em 20 minutos nasce uma nova vítima das minas. / Nos últimos 16 anos, o CICV fabricou mais de 98.500 próteses destinadas a 67.400 amputados em 22 países. / O preço de uma mina oscila entre 0,5 e 5 contos. Neutralizá-las custa em média 200 contos. / Recorrendo só à desminagem manual, precisamos de 1.100 anos para desactivar todas as minas do planeta com um custo de 6 mil milhões de contos. Daí a necessidade de se recorrer a outras formas de desminagem.”

A Convenção de Otawa foi ratificada por 65 países (a partir de 1 de Março de 1999). Esta arma é já chamada “O Soldado Perfeito”. Prevê-se que em Angola (não ratificou) haja uma mina por pessoa. Os Estados Unidos da América, a China e a Rússia concordam mas não assinam este acordo (os EUA referem que precisam dela para defenderem os seus soldados, mas talvez o façam em 2006).

Pastagens do Céu

Mais um livro do meu escritor favorito (o 10.º), o norte-americano John Steinbeck (1902-1968), Prémio Nobel da Literatura em 1962, cuja ficção está marcada por um imensa preocupação com os problemas laborais dos trabalhadores rurais, e também por um grande fascínio para com a terra.
"Pastagens do Céu" não foi dos livros dele que mais gostei, mas prendeu-me!

17 de agosto de 2009

Hotel Ruanda (e Déogratias)

Vi finalmente filme "Hotel Ruanda" (2004), realizado a partir da histórica verídica de Paul Rusesabagina e só posso concluir que, em situações extremas, as acções de cada um reflectem mesmo o que lhe vai na alma. Lembrei-me, a-propósito de Aristides de Sousa Mendes, deste provérbio judeu: "Quem salva uma vida, salva a Humanidade".

O filme foi também o motivo para reler o álbum de banda-desenha "Déogratias" de Jean-Philippe Stassen (Edições ASA). Ao contrário do filme que, apesar de tudo, até tem um final feliz, talvez este livro espelhe melhor o estúpido genocídio, como são todos os outros, a que o mundo assistiu.Como no filme, certamente a Stassen colocou-se a questão de como exprimir o indizível e pintar o inqualificável?

Fácil!

Aproximou-se dele um jovem e disse-lhe: «Mestre, que hei-de fazer de bom, para alcançar a vida eterna?» (Mt 19, 16)
Jesus respondeu: «Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.» (Mt 19, 21)

Se algumas passagens dos Evangelhos ainda se prestam a interpretações, mais ao menos ao nosso interesse, outras são de uma clareza e limpidez absolutas. Esta passagem é daquelas que me causam mais alegria e, ao mesmo tempo, mais inquietações para pô-la em prática! Não serei como o jovem rico?

No início da terceira semana, embora não seja uma constatação científica, não consigo perceber a causa para as Eucaristias das 2.ª-feiras serem as que têm menos pessoas a fazê-las!?!
Tendo hoje de tarde colocado a descrição do blogue e decidido que farei um esforço para tentar rezar a Liturgias das Horas todos os dias, foi com admiração e alegria que percorri a Oração final das Vésperas de hoje (2.ª-feira IV):
Ficai connosco, Senhor Jesus, porque vem caindo a noite: sede nosso companheiro de viagem, confortai os nossos corações e fortalecei a nossa esperança, para que, juntamente com os nossos irmãos, Vos reconheçamos na palavra da Escritura e na fracção do Pão. Vós que sois Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo.

15 de agosto de 2009

Assunção da Virgem Santa Maria (Solenidade)

Silêncio, Simplicidade e Humildade...
Eis a primeira Solenidade do blogue; apesar da Alegria, uma Eucaristia da manhã com não muita gente, e foi muito bom "cumprimentar" a Isabel e o Fernando!!!
O Padre Vitorino ensinou-nos na homilia que podemos e devemos fazer o sinal da Cruz no Benedictus, Magnificat e Nunc dimittis (Cânticos Evangélicos).
Apesar de ser um CD infantil, ou se calhar por isso mesmo, adoro e aqui deixo esta canção do CD "XPTO - Canções para evangelizar" da Congregação das Oblatas do Divino Coração (Odemira) e da Fraternidade dos Irmãozinhos de S. Francisco de Assis (Beja), editado pelas Paulinas, apropriada ao Dia de hoje.

"TU ÉS O SOL", com letra e música de Jerónimo da Rocha Monteiro, sdb:

Tu és o sol num novo amanhecer!
Tu és farol, a vida a renascer!
Maria, Maria, és poema de Amor!
És minha Mãe e Mãe do meu Senhor!

1. Hoje quero acordar e ter-te junto a mim.
Quero hoje cantar poemas de amor sem fim.

2. Com a luz do teu olhar vou semear esp'rança.
Pelo tempo vou voar, sentir que sou criança.

3. Teu carinho e ternura abraçam todo o mundo.
Teu sorriso de candura certeza de amor profundo.

14 de agosto de 2009

São Maximiliano Maria Kolbe

Dzień dobry SMM Kolbe.
Em Agosto de 2006 foi bom visitar-te na Cidade da Imaculada e conhecer o Santuário Mariano e o mosteiro Franciscano em Teresin, Polónia (Niepokalanów, Klasztor Ojców Franciszkanów Sanktuarium Maryjne). E relembrar Auschwitz (Oswiecim), com o estúpido "o trabalho liberta" (arbeit macht frei) da entrada dos campos de concentração ou a parede das execuções (junto à cela do teu martírio) , bem como a tua vida e acções.











Do site "Evangelho Quotidiano" (http://www.evangelhoquotidiano.org/):
Nasceu na Polónia, em 1894. Morreu num campo de concentração nazista, oferecendo a sua vida em favor de um pai de família condenado à morte. Era franciscano conventual. Ensinou teologia em Cracóvia. Devotadíssimo de Nossa Senhora, fundou, na Polónia, a Milícia da Imaculada. E para maior divulgação da devoção à Imaculada, criou a Revista Azul, destinada aos operários e camponeses, alcançando, em 1938, cerca de 1 milhão de exemplares. A "Cidade da Imaculada" abrigava 672 religiosos e um vasto parque gráfico. Foi percursor das comunicações. Perto de Nagasaki fundou uma segunda Cidade da Imaculada com o seu boletim mariano e missionário, impresso em japonês.
Regressado à Polónia, foi preso pelos nazistas devido à influência que a revista e publicações marianas exerciam. Foi dia 7 de Fevereiro de 1941, em Varsóvia. Dali foi levado para Auschwitz e condenado a trabalhos forçados. Exerceu um verdadeiro apostolado no meio dos companheiros de infortúnio, encorajando-os a resistir com firmeza de ânimo. Foi ali que se ofereceu para morrer no lugar de Francisco Gajowniczek. Único sobrevivente do grupo, no subterrâneo da morte, Maximiliano Kolbe resistiu por quinze dias à fome, à sede, ao desespero na escuridão do cárcere. Confortava os companheiros, os quais, um após outro, aos poucos sucumbiam. Morreu com uma injecção de fenol que lhe administraram. Era o prisioneiro com o nº 16.670. Foi no dia 14 de Agosto de 1941. Beatificado por Paulo VI em 1971, foi canonizado por João Paulo II, em 1982.
Toda a razão de ser, de sofrer e de morrer do Padre Kolbe esteve em perscrutar - para dela viver e fazer que se vivesse - a resposta de Maria a Bernardette: "Sou a Imaculada Conceição".

13 de agosto de 2009

Encompassing the Globe

Ontem fui ver a bela exposição "Encompassing the Globe / Abraçando o Globo. Portugal e o Mundo nos séculos XVI e XVII", que até ao próximo dia 11 de Outubro estará patente (5 euros) no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA).
Tive a sorte de chegar 5 minutos antes de começar uma visita guiada, pelo que durante cerca de 2 horas pude também ouvir a boa e entusiasmada guia Rita (e bonita).
Esta exposição foi produzida pela Smithsonian Istitution de Washington, cidade que primeiramente a exibiu em 2007, tendo estado ainda, em versão reduzida, em Bruxelas. A exposição reúne 173 obras de arte (foram 330 nos EUA) - cartografia, marfins, imaginária, desenho, gravura, escultura, pintura, plumária e ourivesaria (de colecções públicas e privadas de vários países, enriquecida com alguns tesouros nacionais).
Pude reencontrar-me com algumas peças que vi em 2006 na exposição "São Francisco Xavier - A sua Vida e o seu Tempo (1506-1552)", embora a tapeçaria em lã e seda (440x770 cm) "Chegada de Vasco da Gama a Calecute" me tenha causado então mais impacto na "humilde" Cordoaria Nacional, que ontem no Palácio das Janelas Verdes.
E nunca será demais olhar para os Painéis de S. Vicente, o Livro das Horas (dito de D. Manuel) ou para a magnífica, e agora restaurada e mais brilhante ainda, Custódia de Belém (do MNAA). Também me prenderam as esculturas do pequeno Menino Jesus Bom Pastor (marfim) e do enorme Cristo Morto (madeira).
Há um ano estive em alguns museus de Londres e penso que devíamos aprender com eles, pois disponibilizariam uma enorme loja de recordações no fim da exposição e não tendo, de facto, visto muitas pessoas lá a contribuir para a manutenção dos museus grátis (eu não o fiz) é praticamente impossível não comprar nada nas lojas (eu comprei).
Após esta exposição pude visitar um outro grande museu, a céu aberto, que são as ruas e bairros de Lisboa, sobretudo quando se vai à descoberta "ao calhas", tendo "tocado" e sentido parte da Lapa, Madragoa e Bairro Alto. Entrar numa Igreja pela primeira vez, como a Igreja de Santos-o-Velho, passar por ruas como a da Esperança (Museu da Marioneta) ou a da Paz (devia ser maior!), ouvir duas vizinhas à conversa (a conta da TV Cabo já chegou?), espreitar a Igreja de Santa Catarina a partir da Rua dos Poiais de S. Bento, e acabar por ir ter ao Largo de Jesus para saber como estariam os peregrinos Padre Jorge e Dona Madalena (Igreja de Nossa Senhora das Mercês).

12 de agosto de 2009

O Denunciante

Mais um soberbo filme do mestre John Ford, o meu realizador preferido. Já devo ter visto quase uma dúzia de filmes dele e ainda não houve nenhum que não tenha gostado (até dos de cowboys).
"The Informer" é de 1935 e tem por cenário a guerra de independência da Irlanda do Norte, na década de 20 do século XX (pelos vistos, o homem não aprende!), e é sobre a tortura insuportável de uma consciência culpada de um acto de traição. O filme tem 92 minutos e até aos 90 fiquei com a ideia que a única coisa que podia podia salvar o Gypo Nolan era o Amor, mas num surpreendente final (2 minutos mágicos), percebemos que ele é "salvo" pelo Perdão.
Aqui deixo uma foto de Victor McLaglen (Oscar de melhor actor), um "gigante" que passa quase o filme todo bêbado (e, pelos vistos, estava mesmo!), e sua namorada Margot Grahame (Katie Madden no filme).
Este foi o primeiro dos quatro Oscares de melhor realizador de John Ford (ainda é recorde). "O Denunciante" (1935) ganhou também os Oscares, para além dos já citados realizador e actor, para melhor argumento e banda sonora. "As Vinhas da Ira" (1940) ganhou os Oscares de realização e actriz secundária. "O Vale Era Verde" (1941) ganhou os Oscares de melhor filme, realização, actor secundário, direcção artística e fotografia. Falta-me ver "O Homem Tranquilo" (1952).

11 de agosto de 2009

Santa Clara e Assis

Pouco se poderá dizer de Santa Clara que não se conheça já, mas Assis é um lugar especial de Paz, e por conseguinte, muito belo, conforme comprovarão por esta fotografia tirada numa manhã de sábado (29 de Outubro de 2005) em que pensei que estava no Cielo, pois estávamos por cima das nuvens!(11 de Agosto) Santa Clara e Assis
Do livro "Arautos da Santidade - Vida dos Santos (Tu solus sanctus)" de António J. Dias f.m.s. (Editora Rei dos Livros, Abril de 2001):
Filha de uma família rica de Assis, aos 18 anos fugiu do palácio com uma prima, juntando-se na Porciúncula a S. Francisco e aos seus companheiros. Depois de lhes cortar o cabelo, vestiu-as de burel e recebeu a sua profissão religiosa. Ao amanhecer levou-as ao mosteiro das beneditinas onde permaneceram até encontrar um lugar próprio para elas.
Entrementes vieram os seus parentes procurá-la. Clara refugiou-se na igreja. Ao tentarem agarrá-la, mostrou-lhes a cabeça rapada em sinal de consagração ao Senhor, e ao mesmo tempo agarrou-se com firmeza ao altar, dizendo que pertencia ao Senhor. Vendo isto, deixaram-na em paz.
S. Francisco obteve das beneditinas o Oratório de S. Damião, próximo da Porciúncula, onde Clara viveu em pobreza radical, a depender das esmolas somente e da divina Providência. Expirou dizendo: "Senhor, eu te glorifico por me teres criado". Contava 59 anos.
Algumas fotografias de Assisi, da Basilica di S. Chiara e da Piazza di S. Chiara, de um Francesco e do lavoro clazature em plena Via San Francesco, que da Piazza del Comune nos leva à Basilica di S. Francesco, e, para terminar, uma gelateria e a Basilica di S. Maria degli Angeli.






























O Príncipe e a Lavadeira

Gostei bastante d'"O Príncipe e a Lavadeira, redescobrir a fé cristã, histórias simples para falar de Deus e de nós" do Nuno Tovar de Lemos, s.j. (Edições Tenacitas); mas senti uma sensação estranha de já o ter lido, apesar de não me lembrar (estou a ficar velho!). Como não o tinha no meio das centenas dos meus livros, apesar de ser algo que só muito raramente faço, só poderia ter acontecido tê-lo lido e oferecido de seguida, mas provavelmente só o saberei quando chegar ao pé Dele!!!
Para os que ainda não leram o livro do Padre Nuno (desde Novembro de 2004, já vai na 11.ª edição), não adianta explicar quem é o Príncipe e quem é (são) a Lavadeira, mas aqui deixo duas passagens do próprio, retiradas da nota à 4.ª edição e da introdução (Excelentíssimo Deus,):
"Perguntaram um dia à Madre Teresa de Calcutá o que sentia quando entrava numa sala cheia de gente entusiasmada, de pé, a aplaudi-la. A pergunta era maliciosa. Ficava na mesma? Isso significaria que era insensível. Ficava lisonjeada? Bem, então talvez não fosse assim tão santa como parecia...
Ela nem hesitou na resposta: Ficava contentíssima! Quando tal acontecia, ao ouvir os aplausos, enquanto andava, pensava em Jesus entrando de burro em Jerusalém entre hossanas de uma multidão entusiasmada e ficava contentíssima. Ela, claro, era o burro que transportava Jesus! Um burro feliz."
"Espero, meu Deus, por aquele dia em que nos encontraremos cara a cara. Sei que nos havemos de rir às gargalhadas recordando alguns disparates que aqui escrevi... Até lá, peço que me abençoes também a mim e a todos os que lerem este livro."

10 de agosto de 2009

São Lourenço

(10 de Agosto) São Lourenço, grande diácono e santo, cuja festa terá que perceber-se à luz da memória de S. Sisto II, papa, e seus companheiros (7 de Agosto).

Do livro "Arautos da Santidade - Vida dos Santos (Tu solus sanctus)" de António J. Dias f.m.s. (Editora Rei dos Livros, Abril de 2001):
O edito de Valeriano em 258 era de extrema dureza para os cristãos. Os mais em evidência deviam ser mortos e os seus bens confiscados. Foi o que sucedeu ao Papa Sisto II.
Para se apoderarem dos bens da Igreja, prenderam também o diácono S. Lourenço, encarregado das contas e da administração dos bens da Igreja. O santo pediu algum tempo para inventariar os tesouros a ele confiados. Depois de converter em numerário os bens da Igreja, empregou-os em esmolas aos pobres e remissão de cativos.
Feito isto, apresentou-se às autoridades com estes miseráveis e disse: "Aqui estão os tesouros da Igreja". O prefeito de Roma julgando-se ludibriado, condenou S. Lourenço a morrer a fogo lento, pensando que se havia de arrepender. Mas não! A brincar com o carrasco, disse-lhe: "Já estou assado de um lado, vira para o outro e come".
Expirou pedindo a Deus pela cidade de Roma. Meio século mais tarde, o imperador Constatino fazia-se cristão.

9 de agosto de 2009

Edith Stein

(9 de Agosto) Santa Teresa Benedita da Cruz
Aos 31 anos converteu-se ao Catolicismo, mas só recebeu o Baptismo aos 32. Aos 44 anos entrou no Carmelo de Colónia. Por ser judia foi presa e morreu no Campo de concentração aos 51 anos.
Admiro a sua inteligência, beleza, humildade e a serenidade no martírio.
Aqui deixo algumas passagens do Irmão Mathew retiradas do pequeno livro "Vítimas do Nazismo" co-editado pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre e pelas Paulinas:
Edith Stein nasceu no dia 12 de Outubro de 1891, dia de São Wilfred, na então cidade alemã de Breslau (actualmente Wroclaw, na Polónia). (...)
O professor Reinach e a sua jovem esposa eram ambos católicos convertidos. Quando ele foi morto na frente Ocidental, em 1917, a jovem viúva pediu a Edith que fosse a sua casa e organizasse os escritos filosóficos do marido. Edith respondeu prontamente, esperando encontrar, segundo a sua atitude judaica inata em relação à morte, uma mulher desfeita e desolada pela mágoa. Em vez disso, encontrou a jovem convertida do Judaísmo calma e serenamente alegre, com a força e paz interiores das revelações e promessas de Cristo. (...) "Foi nesse momento que a minha descrença foi abalada, o Judaísmo empalideceu e Cristo derramou-se sobre mim: Cristo no mistério da Cruz." (...)
Edith haveria de escrever, mais tarde, relativamente a esta fase da sua vida: «A minha alma, embora eu não o admitisse, era como terra sem água, sedenta das águas vivas da Verdade. Não tinha ainda começado a rezar, mas esta ânsia pela Verdade era, em si, uma oração.» (...)
A família Conrad-Martius, embora fosse protestante, tinha um número razoável de livros católicos romanos nas estantes da sua biblioteca. (...) por ao sair, a senhora Conrad-Martius ter deixado a sua amiga e convidada à vontade, colocando todos os seus livros à sua inteira disposição; pelo facto de os Conrad-Martius terem, entre os seus muitos livros, a autobiografia de Santa Teresa d'Ávila...
Edith contou, mais tarde: «Escolhi ao acaso e peguei num livro grosso. Comecei por lê-lo e fiquei imediatamente presa àquela leitura absorvente. Só parei quando o terminei. Ao fechar o livro, disse para mim mesma: «Esta é a Verdade» Era o Livro da Vida de Santa Teresa. (...)
A conversa terminou com o firme acordo que Edith Stein seria recebida na Igreja no dia 1 de Janeiro de 1922. Na véspera, passou toda a noite em oração, e de manhã, bem cedo, Nosso Senhor recebeu-a através dos Sacramentos do Baptismo e da Sagrada Comunhão. Escolheu, como nome de Baptismo, Teresa.
A brilhante intelectual e instruída filósofa era agora um filha obediente da Igreja. Seguiu-se, então, aquele que viria a descrever como o momento mais doloroso que teve de enfrentar durante toda a sua vida terrena: confrontar a mãe, que tanto amava, com a notícia da sua conversão a Cristo. A mãe chorou. Foi a primeira vez que os filhos a viram chorar. Edith chorou com ela. Ficou 6 meses em casa e, sobre esse tempo, a mãe viria a contar a uma amiga íntima: «Nunca vi ninguém rezar como a Edith.» Rezava, contou ela, para que o laço de união daquela boa família Stein não se quebrasse. (...)
Desta forma, ela encontrara o tempo e as condições de que necessitava para se dedicar ao seu objecto de estudo: a obra de São Tomás de Aquino. Os seus escritos posteriores, sobre São Tomás, tiveram um tal impacto no mundo católico romano que começou a ser continuamente solicitada para proferir conferências, adquirindo, desta forma, grande notoriedade como oradora e escritora católica. (...)
Nos sete anos após ter-se tornado católica, Edith alimentou-se exclusivamente das graças divinas, submetendo-se unicamente à sua orientação, de tal forma que o abade Raphael recorda:
«Raras vezes encontrei uma alma que reunisse tantas qualidades excelentes; ela era a simplicidade e a naturalidade em pessoa. Era uma mulher completa, delicada e até mesmo maternal, sem nunca desejar fazer-se mãe de ninguém. Dotada de graças místicas, na verdadeira acepção do termo, nunca deu qualquer sinal de afectação ou sentimento de superioridade. Era simples para com os simples, erudita com os eruditos, porém, sem presunção, inquiridora para com os inquiridores e, gostaria de acrescentar, pecadora para com os pecadores.»
Outro monge, o Padre Zahringer, conseguiu igualmente captar a verdadeira grandeza da sua alma, pelo que escreveu:
«Quando a vi pela primeira vez, à entrada da abadia de Beuron, a sua aparência e postura causaram-me um impressão que apenas posso comparar à das pinturas da Ecclesia Orans (Igreja orante) na mais antiga forma de arte sacra das catacumbas. Não foi simples imaginação. Ela era realmente um tipo dessa Ecclesia presente no mundo temporal e, contudo, dele separada. Nas profundezas da sua união a Cristo, nada, para além das palavras do Senhor, lhe interessava realmente: "Por elas me santifico, para que também possam ser santificadas na verdade".» (...)
Na viagem até Beuron, onde passaria a Páscoa com o seu director espiritual, fez uma paragem em Colónia, na Quinta-Feira Santa, para passar a Hora Santa no Convento das Carmelitas dessa cidade. A propósito dessa hora escreveu:
«Falei com o Nosso Salvador e disse-lhe saber que era a sua Cruz que estava agora a ser colocada sobre o povo Judeu. A maioria não o compreendia, mas aqueles que entendiam deviam aceitar essa Cruz voluntariamente, em nome de todos. Eu queria fazê-lo. Ele só precisava de me mostrar como. Quando a cerimónia terminou, tinha a certeza interior de que fora escutada. Mas ainda não sabia como seria o carregar da cruz». (...)
A 15 de Abril de 1934, Edith Stein uniu-se finalmente a Cristo e, com o hábito de Nossa Senhora do Monte Carmelo, manteve o nome de Teresa - «para que recebesse a protecção da grande Santa de Ávila» - e acrescentou o nome «Benedita», em reconhecimento das graças recebidas na abadia Beneditina de Beuron; «da Cruz» foi acrescentado pelo desejo de tomar parte nos sofrimentos do seu Senhor. (...)
Através de uma obra que nessa altura escrevia sobre S. João da Cruz, desenvolveu uma íntima relação espiritual com este grande santo, deixando-se absorver pela sua visão da Cruz e pela sua prisão em Toledo:
«Ser entregue, de forma impotente, à maldade de inimigos enraivecidos, torturados no corpo e na alma, afastada de toda a consolação humana e até mesmo das fontes da vida sacramental da Igreja... Poderá haver escola da cruz mais difícil?»
Ela sabia que morreria por Cristo. Na verdade, era esse o seu desejo. Se ela quisesse, muito possivelmente o seu destino teria sido outro, pois estavam em curso preparativos, realizados por amigos bem intencionados, para que Edith e Rosa fossem para a segurança de um Carmelo na Suiça. E se a irmã Teresa Benedita se tivesse empenhado nestes planos, com a sua habitual capacidade de decisão, quase seguramente teria lá chegado.
Mas nada fez para apressar as formalidade e, em Maio de 1942, ambas as irmãs foram intimadas a comparecer perante a Gestapo. Quando entrou na sala, a irmã Teresa Benedita saudou os oficiais nazis com as seguintes palavras: «Louvado seja Jesus Cristo.» (...)
Entre lágrimas e orações, a comunidade preparou a bagagem. Os dois homens que a entregaram foram autorizados a falar em particular com as irmãs, com o consentimento da polícia holandesa. A irmã Teresa Benedita contou-lhes que, no seu dormitório, havia dez religiosas e que o comandante alemão dera ordens para que os Judeus católicos fossem separados dos não-católicos.
«A irmã Teresa Benedita encontrava-se perfeitamente serena», contaram os dois homens. «Estava feliz por poder ajudar e consolar os prisioneiros com palavras e oração. A sua profunda fé criou em torno de si uma atmosfera de confiança, que a levou a afirmar: "O que quer que me aconteça, estou preparada. O nosso Jesus amado está connosco". Rosa também estava a resistir, encorajada e animada pelo exemplo da irmã.» (...)
A informação mais fidedigna é de que Edith e a sua irmã foram levadas para a câmara de gás a 9 ou 10 de Agosto de 1942 e os seus corpos cremados.
Quando a cela da irmã Teresa Benedita foi desocupada, encontraram uma pequena estampa escrita no verso por ela: «Desejo oferecer a minha vida como sacrifício pela conversão dos Judeus.»
Beatificação e canonização - Edith Stein foi beatificada a 1 de Maio de 1987, pelo papa João Paulo II, durante a sua segunda visita pastoral à Alemanha. A beatificação teve lugar no enorme estádio de futebol de Mungersdorf, em Colónia. Entre celebrações grandiosas, e até alguma controvérsia, foi canonizada, também por João Paulo II, em Roma, a 11 de Outubro de 1998. Toda a Igreja celebra a sua festa dia 9 de Agosto: Santa Edith Stein, Teresa Benedita da Cruz.

O outro pé da sereia

Terminei finalmente "O outro pé da sereia" do moçambicano Mia Couto. Ao contrário dos livros anteriores dele que li, neste demorei muito mais que o habitual, mas não deixou de ser um livro encantador com centenas de saborosas palavras novas.
Aqui fica uma pequena passagem: "Quem chega logo se pergunta: o que faz ali uma pessoa de tanta cultura? E como é que alguém de tanto saber se pode ocupar como barbeiro? De facto, Arcanjo Mistura foi deportado pela polícia colonial portuguesa para aquela região, há mais de 40 anos. O barbeiro assegura que já não se lembra de onde veio. Acabei ficando natural de Longe, admite Arcanjo. Mentira. Como todos os outros da vila, o homem esquece para ter passado e mente para ter futuro."
Deixo também algumas frases dos separadores:
"Os ricos enriquecem, os pobres empobrecem. E os outros, os remendados, vão ficando sem remédio." (o barbeiro de Vila Longe);
"Sem esquecer não podemos ser humanos." (Nietzsche, citado por Afshin Ellian) e
"Não é fácil sair da pobreza. Mais difícil, porém, é a pobreza sair de nós." (o barbeiro de Vila Longe).

Um dia comprido!

Na 6.ª-feira tive um dia "comprido"; descontando, ou não, um terço que guardo para dormir, outro terço foi para o GAP, e houve um pouco de tudo: carregar com roupa, alguma escrita, um pouco de armazém, levar roupa ao Telhal (de homem, tendo conhecido a sua enorme "rouparia") e à Abraço (de bebé), para além de cerca de 4 horas de visitas domiciliárias, que terminaram já perto das 22 horas, com passagem por algumas das casas humildes da freguesia, em Francos, Serradas, Tabaqueira e Albarraque.
Continuo a achar que não tenho jeito para entrar na casa das pessoas, sendo algo que faço com dificuldade, mas que continua a proporcionar-me bons momentos com a Carla, nas deslocações entre cada visita, quer sejam as "brincadeiras" a-propósito dos elevadores ou as incontáveis surpresas que nos aparecem, nunca conseguiremos dizer "já vivemos todas as situações possíveis, agora já nada novo nos pode acontecer!".
Como terminava, há uns anos atrás, um concurso em que contracenava de improviso com os concorrentes, o Raul Solnado: "A gente qualquer dia vê-se!"

7 de agosto de 2009

Laudes (Salmos)



Hoje poderia copiar/trazer o Papa S. Sisto II que, com os seus companheiros mártires, faleceu no ano de 258 no cemitério de Calixto (Roma). Mas não sei se esta fotografia das Catacombe di S. Callisto (na SVRO CRYPTAS COEMETERII CALLISTI) corresponde ao mesmo local. Ou mesmo S. Caetano, apesar de ainda ter passado por Vicenza, Veneza ou Nápoles.

Mas prenderam-me os Salmos das Laudes de hoje, pelo que aqui ficam 3 trechos dos mesmos:
Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade,
pelo vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as faltas. (Sl 5o, 3-4)

Eu, porém, exultarei no Senhor,
alegrar-me-ei em Deus, meu Salvador.
O Senhor Deus é a minha força,
Ele dá aos meus pés a agilidade do veado
e me faz caminhar nas alturas,
ao cânticos de salmos. (Hab 3, 18-19)

Envia à terra a sua palavra,
corre veloz a sua mensagem.
Faz cair a neve como lã,
espalha a geada como cinza. (Sl 147, 15-16)

6 de agosto de 2009

Transfiguremo-nos

Poderá ser um bocado idiota colocar pensamentos privados num blogue, mas esta ideia ocorreu-me quando hoje nas visitas domiciliárias do GAP com a Carla por duas vezes subimos ao monte, que na tradição é o Tabor; será que Jesus, Pedro, Tiago e João não nos acompanham todos os dias?
Esta é das passagens que mais aprecio nos Evangelhos.

(6 de Agosto) Transfiguração do Senhor (Festa):
"Contemplando sempre a visão nocturna, vi aproximar-se, sobre as nuvens do céu, um ser semelhante a um filho de homem." (Dn 7, 13);
"Os céus proclamam a justiça de Deus e todos os povos contemplam a sua grandeza." (Sl 96, 6);
"As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que lavadeira alguma da terra as poderia branquear assim." (Mc 9, 3).

Buda caiu de vergonha

Em certos países, ir à escola... pode ser um sonho!
Penso que o "Buda caiu de vergonha" (DVD), realizado pela iraniana Hana Makhalmalbaf em 2007, foi o primeiro filme afegão que vi. E não podem vir só más notícias daqueles lados porque, afinal, lá... também vivem pessoas.
Para além de vários grandes filmes do iraniano Abbas Kiarostami, já vi pelo menos mais dois filmes do Irão: "O Pai" de Majid Majidi (na Cinemateca) e, o muito colorido, "Gabbeh" (um tipo de tapete) de Mohsen Makhmalbaf (e ainda me falta, em DVD, o "Kandahar"), que é o pai da Hana.
Lembrei-me das crianças que, num Domingo de manhã, no decorrer de uma viagem de Petra para Monte Nebo e para Israel, vi na Jordânia a irem para a escola, sendo que muitas eram raparigas. É difícil não ficar preso pela pequena Nikbakht Noruz, que interpreta a protagonista do filme (Bakhtai), que só quer ir para a escola.

Lembrei-me também de outra criança chamada Victoire Thivisol, que em 1996 protagonizou o filme "Ponette" (realizado pelo francês Jacques Doillon).


A Bakhtai tem um amigo chamado Abbas (que será o Abdol Ali Hoseinali ou, talvez, o Abbas Alijome) que tem a sorte de já saber ler, mas como chega sempre atrasado à escola (sem janelas e sem tecto), fica de castigo no fundo da "sala" com um pé no ar!! Numa das cenas o Abbas lê à Bakhtai a seguinte história do livro escolar: "Um homem dormia debaixo de uma árvore. Caiu-lhe uma noz na cabeça. O homem levantou-se e disse: 'Ainda bem que não é uma abóbora, se não tinha morrido.'"
Sinopse: Afeganistão, região de Bamyian. Neste local ergueram-se durante séculos estátuas gigantescas do Buda, porém o fanatismo religioso dos Talibã levou à sua destruição. É nas ruínas destas esculturas ancestrais que vive ainda uma população muçulmana onde encontramos a pequena Bakhtai, uma rapariga de 6 anos que sonha em ir à escola e aprender a ler e a escrever.
Com custo ela arranja o dinheiro necessário para comprar um caderno e acompanhada por um vizinho dirige-se à escola, porém pelo caminho é atacada por um grupo de rapazes que repetem toda a violência de que foram testemunhas ao longo das suas vidas, eles querem rebentar com Bakhtai como os talibã fizeram ao Buda, será que a pequena conseguirá escapar a estas brincadeiras violentas e chegar à escola? Dirigido pela iraniana Hana Makhmalbaf, o filme é uma fábula moderna sobre o impacte da guerra sobre uma população oprimida e os efeitos de gerações de obscurantismo sobre a relação entre os sexos e o seu impacte na educação e cultura dos jovens de hoje. Tendo por cenário uma das regiões e populações que mais têm sofrido os efeitos da opressão e violência, Hana Makhmalbaf dá-nos um comovente libelo anti-guerra onde se interroga sobre o futuro de toda uma geração. Uma referência especial para o desempenho da pequena Nikbakht Noruz, que encarna na perfeição a pequena Bakhtai.

5 de agosto de 2009

Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior

Das 4 mais importantes Basílicas de Roma, todas território do Vaticano (embora só São Pedro fique no interior do Estado Pontifício), a Basílica de Santa Maria Maggiore é a menos conhecida e a mais antiga.(5 de Agosto) Dedicação da Basílica de Santa Maria
Da "Liturgia das Horas":
Depois do Concílio de Éfeso (431), em que a Mãe de Jesus foi aclamada Mãe de Deus, o papa Sisto III erigiu em Roma, no monte Esquilino, uma basílica dedicada à Santa Mãe de Deus, mais tarde designada «Santa Maria Maior». É esta a Igreja mais antiga do Ocidente que foi dedicada a Nossa Senhora.
Do livro "Arautos da Santidade - Vida dos Santos (Tu solus sanctus)" de António J. Dias f.m.s. (Editora Rei dos Livros, Abril de 2001):
Dedicação de Santa Maria das Neves
A Basílica Sicini foi cristianizada no tempo do Papa Libério, no meio do século IV, restaurada e consagrada em honra da Virgem Maria pelo Papa Sisto III no ano de 435.
É chamada de Santa Maria Maior pela antiguidade e dignidade. É costume neste dia cobrir de pétalas de flores as lajes do templo. Estará este costume relacionado com a lenda medieval da queda de neve em Agosto a marcar o sítio do Templo, como causa ou efeito?
Toda resplandece de mármores e mosaicos, exalta as glórias daquela que em 431 havia sido proclamada "Theotokos", isto é, Mãe de Deus, no Concílio de Éfeso.

E agora um pequeno desafio com as 4 Portas Santas das Basílicas do Vaticano?























Estas 4 Portam Sanctam, em italiano Porta Santa, correspondem às Basílicas de San Giovanni Laterano, San Pietro, San Paolo fuori le Mura e Santa Maria Maggio. Se Deus quiser, acertarei a porta com o "boneco" nos dias: 9 de Novembro (São João de Latrão), 18 de Novembro (São Pedro e São Paulo), e 5 de Agosto (Santa Maria Maior).

4 de agosto de 2009

João Maria Vianney

Deus tem uma capacidade enorme de nos surpreender, pois não escolhe os mais capacitados!
E o "Santo" Padre Cruz nasceu há 150 anos (29/07/1859 - 1/10/1948), uma semana antes do falecimento do Santo Cura d'Ars.

E encontrar Ars no mapa também não é fácil! Se Belley, a diocese a que pertence, fica, relativamente a Lyon, para leste, no sentido da fronteira italo-helvética, Ars-sur-Formans (departamento d'Ain - 01) fica a 30 km a norte de Lyon (departamento de Rhône - 69). O que é uma óptima localização para quem se desloca para Taizé (Mâcon/Cluny), que fica ainda mais para norte de Lyon, pois sensivelmente a meio caminho fica Villefranche-sur-Saône (A6 saída n.º 31) , e Ars-sur-Formans fica só 7 km a leste desta.

(4 de Agosto) S. João Maria Vianney (o Santo Cura d'Ars)
Da "Liturgia das Horas":
Nasceu em Lião no ano 1786. Depois de superar muitas dificuldades, pôde ser ordenado sacerdote. Tendo-lhe sido confiada a paróquia de Ars, na diocese de Belley, o santo promoveu nela admiravelmente a vida cristã, por meio duma eficaz pregação, com a mortificação, a oração e a caridade. Revelou especiais qualidades na administração do sacramento da Penitência e na direcção espiritual, e por isso acorriam fiéis de todas as partes para escutar os seus santos conselhos. Morreu em 1859.
Oração: Deus omnipotente e misericordioso, que fizeste de São João Maria Vianney um sacerdote admirável no zelo pastoral, concedei-nos, que, imitando o seu exemplo, ganhemos para Vós no amor de Cristo os nossos irmãos e com eles alcancemos a glória eterna. Por Nosso Senhor.

Do livro "Arautos da Santidade - Vida dos Santos (Tu solus sanctus)" de António J. Dias f.m.s. (Editora Rei dos Livros, Abril de 2001):
É o nome do cura d'Ars como é mais conhecido. Viveu a infância num tempo de reboliço provocado pela Revolução Francesa.
A Primeira comunhão fê-la às escondias numa aldeia vizinha, na diocese de Lião. Teve a sorte de encontrar um padre que o instruiu, e, mais tarde, apoiou a sua vocação. Napoleão obrigou-o a enfileirar na campanha contra a Espanha, mas como caiu doente, não voltou para as fileiras e foi procurado como refractário.
Com muita dificuldade nos estudos lá conseguiu ser ordenado, em vista da sua grande piedade. Nomeado pároco de Ars, uma aldeia de uma 250 pessoas muito descristianizada, acabou por transformá-la inteiramente, à força de oração e penitência.
O seu dom de conhecedor das consciências e o dom de uma catequese muito familiar mas convincente, atraíam a seus pés multidões de penitentes, mais de cem mil por ano. O Diabo fazia-lhe a vida negra por ele lhe arrebatar tantas almas, pois chegava a confessar 18h por dia.

Algumas passagens retiradas da Agência Ecclesia (http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=73653):
Com 11 anos de idade confessou-se pela primeira vez ao Padre Groboz que viera, clandestinamente, visitar os seus pais e atendê-los espiritualmente. O exemplo deste sacerdote marcou profundamente a vida do jovem Vianney que recordou - até ao final da vida - a primeira confissão. No último ano do século XVIII recebe a primeira comunhão clandestinamente. De sua mãe recebe a instrução religiosa.
A 13 de Agosto de 1815, depois de enormes dificuldades, que pareciam insuperáveis por causa dos obstáculos que havia encontrado nos estudos, foi ordenado sacerdote.
Antes de ser enviado para Ars, o Padre Vianney passou três anos como coadjutor do idoso Padre Balley, na paróquia de Écully. Quando foi nomeado pároco de Ars, o vigário geral disse-lhe: "É uma paróquia pequena, onde não há muito amor a Deus. Deverá levá-lo para lá". A casa paroquial daquela localidade foi a residência do Padre Vianney durante 41 anos do seu ministério.
Em 1818, João Maria tinha 32 anos e os superiores, pela escassez de sacerdotes, confiaram-lhe a paróquia de Ars, um lugar afastado, onde nenhum sacerdote havia desejado ficar. Quando chegou lá - como um bom filho de São Francisco - humildemente, a pé, como um pobre entre os pobres, tentou logo conquistar aquelas almas.
Catarina Lassagne, filha de camponeses, foi a principal colaboradora do cura d'Ars e directora da «Providência», um orfanato criado por João Maria Vianney. O seu depoimento no processo de canonização foi o mais amplo e detalhado, e constitui até hoje a principal fonte de dados biográficos sobre o cura d'Ars.
No seu confessionário, onde muitas vezes sustentou lutas corpo a corpo com o inimigo, permanecia até 18 horas diárias, convertendo-se numa espécie de altar da misericórdia, onde começaram a acorrer pessoas de todas as partes da França e da Europa. O Santo Cura D'Ars nunca saiu ao átrio para chamar as pessoas, nem correu pelas ruas para agitar a indiferença dos paroquianos e nunca os reprovou. De joelhos diante do tabernáculo e da imagem da Virgem, permanecia longos tempos em oração, comendo apenas o necessário para viver, dormindo poucas horas durante a noite. Ainda que distraídos e despreocupados, os paroquianos começaram a ajudar. Vendo o pároco ajoelhado, ajoelhavam-se também, e rezavam com ele. A localidade de Ars converteu-se num caminho de peregrinação de todas as partes da França e da Europa.
Os peregrinos acorriam desde o amanhecer à aquela igreja que trinta anos antes se encontrara vazia: "Diga-me onde está Ars, e eu lhe indicarei o caminho do céu", havia dito São João Maria a um pastorzinho antes de chegar à sua paróquia. João Maria Vianney morreu a 4 de Agosto de 1859, aos 73 anos.

O post já vai longo, a Oração para o Ano Sacerdotal do Papa Bento XVI ficará para mais tarde, mas quero terminar com o Acto de Amor do Santo Cura d'Ars:

Eu vos amo, oh meu Deus, e meu único desejo
é amar-vos até ao último suspiro da minha vida.

Eu vos amo, oh Deus infinitamente amável,
e prefiro morrer amando-vos
que viver um único instante sem vos amar.

Eu vos amo, oh meu Deus, e só desejo o Céu
para ter a felicidade de vos amar perfeitamente.

Eu vos amo, oh meu Deus, e só compreendo o inferno
por aí não termos nunca a doce consolação de vos amar.

Oh meu Deus, se a minha língua
não pode estar sempre a dizer que vos amo,
quero que ao menos o meu coração vô-lo repita
tantas vezes como quantas eu respiro.

Ah! Dai-me a graça de sofrer amando-vos,
de vos amar sofrendo,
e de um dia expirar amando-vos e sentindo que vos amo.

E quanto mais me aproximo do meu fim,
tanto mais vos imploro
que aumentais o meu amor e o aperfeiçoeis. Ámen.

3 de agosto de 2009

Eucaristia e palhaços!

"Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus."

Vantagens de ter a manhã livre; pude ir à Eucaristia das 9h30m e levar a "Liturgia das Horas", se bem que nas Laudes, incluídas na Eucaristia, só rezemos os Salmos e o Benedictus, e respectivas antifonas. Conseguirei saboreá-la da mesma forma que quando estou numa Igreja cheia, embora nesses casos até seja muito mais fácil distrair-me e, verdadeiramente, não estar lá! De qualquer maneira, hoje éramos cerca de 20 pessoas em Acção de Graças e, ficando ao pé da Irmã que até já tinha visto no Domingo (é impossível tirar férias de Deus!), e que hoje estava a ler um livro em italiano, reparei que só havia três homens: o Padre Filomeno, eu e... JESUS!

A-propósito dos números, que para os homens é algo sempre tão importante, recordei-me desta passagem do livro "Memórias de um crente" de Abbé Pierre (5/08/1912 - 22/01/2007) da Gráfica de Coimbra:
"Quando não estou na Normandia, na casa de retiros dos companheiros de Emaús, moro nos arredores de Paris, no décimo andar de uma torre. Aí me delicio com um panorama magnífico sobre Paris inteiro. Rente ao meu prédio passa a auto-estrada que dá acesso à capital, e à noite avisto milhares de faróis em ambos os sentidos, sem contar as centenas de milhares de luzes dos apartamentos parisienses. Quantas vezes meditei de noite, junto da minha janela, pensando: “Meu Deus, que multidão enredada em soluços, alegrias, sorrisos de crianças, aflição de doentes, felicidade de apaixonados, tristeza de pessoas sós!” E adquiri o hábito de celebrar missa, quando estou sozinho, junto desta janela rasgada sobre toda aquela multidão. É o vitral através do qual contemplo toda a alegria e todo o sofrimento dos homens. E ao mesmo tempo, é a nave da minha Igreja. Tenho na minha frente todos os meus irmãos por quem ofereço o sacrifício da Eucaristia.
Gosto de contemplar o grande mistério de Jesus que se dá neste pequeno bocadinho de pão. Na Eucaristia, Jesus está presente, não como os Evangelhos no-lo dão a conhecer no dia a dia, mas como é presentemente – ressuscitado. Pela fé, sei que está ali com o seu corpo glorioso, presente na hóstia consagrada. E por isso, posso aproximar-me d’Ele mais facilmente, posso tocar-Lhe, saborear a Sua presença sem ficar ofuscado com a Sua luz, esmagado pela Sua glória.
Descobri recentemente, por ordem dos médicos, os benefícios da sesta. A Eucaristia é para mim como que uma sesta da alma, um momento de repouso total no meio das fadigas de cada dia ao qual me posso entregar completamente.
Não passo então de um pobre padre extenuado que poisa o carrego no chão e diz a Jesus: “Acode-me, pesa demais.”"

Como a Eucaristia é alegria, fui buscar também esta fotografia de Alex Cruz (EPA/Lusa) que vi na edição do "Global Notícias" de 24/07/2009:
que tem o seguinte texto: "MÉXICO Centenas de fiéis católicos de todas as idades, vestidos de palhaços, seguem em procissão para a Basílica de Guadalupe. Trata-se de uma peregrinação anual em acção de graças à Virgem de Guadalupe. A festividade religiosa termina com uma missa naquele templo.

2 de agosto de 2009

A Verdade

Li a seguinte frase do Professor Agostinho da Silva (filósofo português / 1906-1994) no jornal "Destak":
"Não me interessa ser original: interessa-me ser verdadeiro".

Ocorreu logo uma outra passagem que li no livro "Apaixonados pela Eucaristia, com João Paulo II e Teresa de Lisieux" do Padre Marie-Michel (da Editorial Apostolado da Palavra, Março de 2007) :
"Simone Weil dizia: «Cristo gosta que, a Ele, se prefira a verdade, porque, de facto, Cristo é a Verdade. Se nos desviarmos d'Ele para ir ao encontro da verdade, não andaremos muito sem cairmos nos seus braços»."

E para terminar, um pensamento de Pai (Padre) Américo, retirado do jornal "O Gaiato" de 4 de Julho de 2009 (n.º 1.704, ano LXVI):
"O Evangelho, meus senhores, é uma exactidão tremenda! É uma força terrível! Se alguém te disser do doce Rabi da Galileia, não faças caso. São poetas a fazer renda. Mas quando os pregadores da Cruz falam do Revolucionário que veio ao mundo para trazer a espada, então sim. Escuta. E se tens coragem faz-te tu também um revolucionário à Sua moda."

1 de agosto de 2009

e... férias!

As férias começaram com um alegre, cansativo, meditativo, desgastante, retemperador dia de distribuição do GAP, onde encontrei malta que, sobretudo, gosta de dar tempo aos outros, haverá algo mais recompensador?!?

Gosto particularmente dos dias que se aproximam, e nem estou a pensar no não fazer nada, algo que eu até sei fazer bem, pois o programa das festas é:
São João Maria Vianney (o cura de Ars, dia 4), Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior (dia 5), Transfiguração do Senhor (Festa, dia 6), S. Domingos (dia 8), Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein, sendo Domingo, não queria deixar de referi-lá), São Lourenço (Festa, dia 10), Santa Clara (dia 11), São Maximiliano Maria Kolbe (dia 14), Assunção da Virgem Santa Maria (Solenidade, dia 15), São Estêvão da Hungria (também Domingo, dia 16), Santa Helena (dia 18), São Bernardo (dia 20), São Pio X (dia 21) e Virgem Santa Maria, Rainha (dia 22).